Folha de S. Paulo


Alvo da Lava Jato, grupo Schahin pede recuperação judicial

O grupo Schahin protocolou seu pedido de recuperação judicial nesta sexta-feira (17) na 2ª vara de falências e recuperação judicial de São Paulo.

É a sexta companhia envolvida na Operação Lava Jato que recorre à Justiça para não quebrar. Já pleitearam a proteção judicial as empresas Inepar, Alumini, Jaraguá, Galvão Engenharia e OAS.

O grupo tem por volta de R$ 12 bilhões em dívidas, mas optou por incluir apenas cerca de R$ 6,5 bilhões no processo.

No total, 28 empresas do conglomerado estão no pedido de recuperação (15 delas com sede no exterior), segundo documento entregue à Justiça, que a Folha teve acesso.

A Schahin Engenharia, principal fonte de receita da empresa nos últimos anos, está no pedido. Mas o grupo afirmou que decidiu abandonar o setor e concentrar suas operações na área de óleo e gás, onde tem hoje como único cliente a Petrobras.

De acordo com o documento, os credores da Schahin Petróleo e Gás, subsidiária que ficou de fora do pedido de recuperação judicial, impuseram o término da atividade de construção como condição para que a empresa tenha acesso a novos empréstimos.

"O Grupo Schahin, agindo de forma desesperada, com vistas à obtenção de tais novos financiamentos, aceitou a condição e, há algumas semanas, encerrou tais atividades, sendo possível, agora, que o Grupo Schahin sofra cobranças de multas e penalidades contratuais associadas a esse ato, o que agravará mais ainda a sua condição financeira", afirma o documento, assinado pelos advogados Joel Thomaz Bastos e Bruno Oliveira, do escritório DCA.

SEM CRÉDITO

Como outras empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção na Petrobras, a Schahin perdeu acesso a crédito e o dinheiro em caixa secou. A empresa interrompeu a operação de cinco das seis sondas que aluga para a Petrobras diante da falta de recursos para arcar com gastos de manutenção e com segurança.

A estatal notificou a companhia sobre a suspensão das atividades das sondas nesta sexta-feira (17). A Schahin tem agora 15 dias para se defender sob o risco de ter contratos de aluguel cancelados definitivamente.

"Nos últimos meses, todos os esforços possíveis para evitar a recuperação judicial foram feitos - da tentativa de lançar títulos no mercado de capitais e da renegociação de passivos existentes, até o repasse de contratos de obras - infelizmente, sem sucesso. O Grupo Schahin lamenta principalmente as demissões envolvidas na reestruturação de seu negócio, mas confia solidamente na recuperação da sua capacidade empresarial no prazo mais breve possível", afirmou a Schahin em nota.

A empresa não informou quantos funcionários foram demitidos.

Além de enxugar as áreas de atuação, a Schahin pretende vender parte de seus ativos para sobreviver.

INVESTIGAÇÃO

A Schahin é acusada, na Lava Jato, de participar "esporadicamente" do cartel de empreiteiras que superfaturava obras para a Petrobras. Apesar de seus executivos não terem sido presos, a companhia teve seu nome citado nas delações premiadas e faz parte do grupo de 23 empresas que foram excluídas de novas licitações pela Petrobras.

O grupo se endividou pesadamente para fornecer sondas para a estatal, aproveitando a política de conteúdo nacional. Adquiriu três sondas e fez contratos de leasing para outras três. Todas estão alugadas para a Petrobras, mas só uma delas será mantida em funcionamento.

A maior parte da dívida da companhia está no exterior. Bancos nacionais também emprestaram dinheiro para a Schahin, mas por meio de um sindicato de bancos que comprou papéis da companhia no exterior.

SONDAS

A Schahin Engenharia aluga para a Petrobras as sondas SS Amazônia, SS Pantanal, SC Lancer e Vitória 10.000. Já a Schahin Petróleo e Gás, que ficou de fora da recuperação judicial, aluga as sondas Sertão e Cerrado.

No momento, apenas a sonda Vitória 10.000 segue em operação. As demais foram retiradas do mar. A empresa afirma, contudo, que não trouxe as sondas para a costa de forma definitiva e que elas são "imprescindíveis" para a reestruturação do grupo.

A Petrobras não informou onde essas sondas operavam. Algumas delas têm capacidade para atuar no pré-sal. O petróleo só é extraído, no entanto, em uma fase posterior, quando é instalada uma plataforma de produção.

A retirada dos equipamentos da Schahin, portanto, não interfere na produção da Petrobras no curto prazo, mas pode prejudicar as metas de médio e longo prazo.


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