Folha de S. Paulo


Pequenas empresas aproveitam alta do dólar para ganhar mercado

Para muitas empresas, a escalada do dólar deste ano significa aumento de custos para os produtos que vendem ou dos itens que usam para sua produção. Mas nem todas as pequenas companhias lamentam a valorização da moeda norte-americana.

A desvalorização do real pode ter efeitos positivos para quem exporta. Eles ganham competitividade a medida em que os dólares das vendas passam a ser mais valiosos no mercado brasileiro.

Editoria de Arte/Folhapress

Empresas de turismo receptivo também podem ser beneficiadas com a mudança. Isso porque ficou mais barato para estrangeiros virem para o Brasil e mais caro para brasileiros irem ao exterior, explica Marcos Sthal, consultor do Sebrae-SP.

Fábio Casaca, 47, sócio do hostel Telstar, na zona sul de São Paulo, diz acreditar em um aumento na hospedagem de estrangeiros a partir de julho, as férias de verão no hemisfério norte.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Fábio Casaca, 47, aposta na vinda de mais turistas estrangeiros para seu hostel, na Vila Mariana, em São Paulo
Fábio Casaca, 47, aposta na vinda de mais turistas estrangeiros para seu hostel, na Vila Mariana

Para aproveitar a onda, ele voltará a fazer publicidade na internet em inglês para esse público, que já foi maioria no hostel aberto em 2011, mas se tornou menos habitual.

"São Paulo é uma cidade extremamente cara para o mochileiro. A mudança do dólar pode ser ruim para alguns setores, mas para nós é uma esperança de voltar a ser como no passado."

MULTIPLICADO

Buscar dinheiro para alavancar o crescimento de uma empresa fora do Brasil também ficou mais interessante.

Marcos Barrosa, 34, fundador da start-up (empresa iniciante de tecnologia) ScorePointer conta estar negociando nos EUA US$ 6 milhões (aproximadamente R$ 18,5 milhões) em investimentos em sua segunda rodada de captações.

A ideia é usar os recursos para aumentar a divulgação do seu aplicativo, que permite a avaliação de restaurantes em troca da participação em programas de fidelidade.

"O capital que levantamos lá virá em dólar, enquanto meus custos de desenvolvimento e de premiação de usuários são em reais."

Ele afirma que, mesmo com a economia brasileira em um mau momento, investidores que apostam em empresas como a sua estão acostumados a correr riscos.

Produtos que podem dar alguma vantagem no novo cenário são aqueles que, feitos no Brasil, concorrem com importados, diz Sthal.

A empresa Notiluca, que desenvolve óculos de madeira, usa materiais nacionais, mas tem entre seus principais competidores marcas estrangeiras que devem elevar seus preços por conta do câmbio.

Fernando Rodrigues, 29, um dos sócios, espera ter modelos similares aos importados por menos da metade dos preços e pretende exportar para Nova York no final deste semestre.

A loja virtual Jack the Barber, de roupas masculinas, também tem no encarecimento de seus concorrentes sua principal esperança neste momento de economia fraca.

Guilherme Paulino, 40, sócio da empresa, afirma que o aumento do dólar traz aumento de custos na compra de tecidos e nos preços cobrados pelas confecções que fazem peças para sua marca.

Por outro lado, o mercado com o qual a empresa concorre, o de peças importadas compradas por quem viaja ao exterior, ficou ainda menos atrativo, o que pode beneficiar seu negócio, afirma.

Mas a conta final acaba sendo negativa, na opinião do empresário:

"Uma desvalorização grande na moeda deixa a população brasileira mais pobre e afeta a confiança do consumidor."

CAMINHO PRÓPRIO

A indústria cosmética Feitiços Aromáticos, no mercado há 13 anos, exporta desde seu segundo ano de atuação.

Karime Xavier/Folhapress
Raquel da Cruz, 46, aposta na exportação direta de seus perfumes afrodisíacos
Raquel da Cruz, 46, aposta na exportação direta de seus perfumes afrodisíacos

Raquel da Cruz, 46, sócia e fundadora da companhia, conta que até o ano passado a empresa chegava ao mercado externo a partir da parceria com comerciais exportadoras, especializadas em adquirir produtos no Brasil e revendê-los no exterior.

Desde 2014 ela passou a também buscar compradores por conta própria, inicialmente na Colômbia e Chile, o que a dá maior autonomia para negociar valores e pontos de venda.

Até agora foram fechadas duas compras, com valor total de US$ 25 mil. A meta de Cruz é que as exportações representem entre 5% e 8% de seu faturamento de 2015.

"Isso está sendo a luz no fim do túnel. Tem ajudado a pagar as contas nessa crise que estamos passando", diz.


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