Folha de S. Paulo


Fitch avalia bancos como estáveis, mas destaca Lava Jato e prevê lucro menor

Novo relatório divulgado nesta segunda-feira (6) pela agência de classificação de risco Fitch Ratings informa que as notas de risco de 80% dos bancos brasileiros têm perspectiva estável. A previsão, no entanto, é de queda da lucratividade em 2015, principalmente para bancos públicos e de pequeno e médio porte.

A Fitch prevê que entre as pressões pelas quais os bancos passarão estão as repercussões da Operação Lava Jato, o fraco crescimento da economia, o aperto fiscal, o aumento do número de setores em dificuldades, o elevado endividamento familiar, e os ricos de aumento do desemprego, da inflação e das taxas de juros.

O relatório é trimestral, focado em bancos de capital aberto e se refere a análise dos últimos três meses do ano passado. Logo em seu enunciado, traz a afirmação: "estável até o momento, mas tempos difíceis estão a caminho".

O documento ressalva, no entanto, que, de modo geral, a queda será "administrável".

A instituição avalia que o desempenho da maioria dos bancos brasileiros foi "relativamente bom" e que ainda considera que há indicadores adequados.

MAIS DINHEIRO COBRINDO CALOTES, MENOS PARA LUCROS

"O crescimento do PIB do Brasil foi 0,1% em 2014, e a Fitch projeta queda de 0,4% em 2015. A expectativa é negativa e, com geração de caixa menor, fica mais difícil para as empresas pagarem suas dívidas", diz Claudio Gallina, diretor da área de instituições financeiras da Fitch no Brasil.

Segundo Gallina, espera-se aumento de 30% nos gastos com provisões contra o risco de calotes por parte dos clientes.

Isso significa que, frente a cenário pouco favorável, os bancos deverão separar somas maiores para continuar operando normalmente caso não sejam pagos por empréstimos.

A diretora Esin Celasun ressalta, no entanto, que as provisões são preventivas e, caso os calotes não se confirmem, o dinheiro separado poderá dar fôlego extra para os bancos em 2016.

Desse aumento de 30% nas provisões, 10 pontos percentuais devem vir da cadeia de fornecedores e prestadores de serviços do setor de óleo e gás, um dos mais afetados pela Operação Lava Jato da Polícia Federal.

"Mesmo sem nada comprovado na Justiça, empresas mencionadas na Lava Jato já passam por retração de crédito como precaução dos bancos", diz Gallina.

Outros 15 pontos percentuais das provisões devem vir das carteiras de crédito do setor de varejo, que passa por desaceleração nas vendas.

BANCOS PÚBLICOS SE SAEM PIOR

Gallina afirma que os bancos públicos devem ter maior dificuldade em 2015 porque cresceram muito nos últimos anos, já que são usados como instrumento para os gastos do governo.

Esses vêm de um período de expansão, forma encontrada pelo governo para tentar combater a desaceleração da economia.

No mês passado, a Fitch Ratings enviou representantes ao país para conversar com autoridades brasileiras com o objetivo de debater sobre a situação econômica local.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, os recebeu e apresentou as medidas fiscais que estão sendo adotadas.

A comitiva da Fitch esteve nesta quarta também com o secretário do Tesouro Nacional, Marcelo Saintive, e com o secretário de Política Econômica da Fazenda, Afonso Arinos Neto.

A Fitch foi a segunda agência de classificação de risco a visitar a equipe econômica de Dilma em março. Uma missão da Standard and Poor´s passou uma semana no país para avaliar o cenário econômico brasileiro e a capacidade do governo de honrar suas dívidas.


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