Folha de S. Paulo


O Brasil precisa de mais gente como Eike, diz VP mundial da GE

Os problemas enfrentados pela Petrobras, um de seus maiores clientes no Brasil, e a perda de US$ 300 milhões registrada com o grupo EBX, de Eike Batista, não diminuíram as expectativas da GE com o país, diz seu vice-presidente global, John Rice.

Para o executivo, as dificuldades de seus clientes também trazem novos negócios. Em relação à crise do império X, Rice crê que o país precise de mais gente disposta a tomar riscos.

RIcardo Borges - 13.nov.2014/Folhapress
Para o vice-presidente global da General Electric, John Rice, o Brasil precisa de mais gente como Eike Batista
Para o vice-presidente global da General Electric John Rice, o Brasil precisa de mais gente como Eike

Em entrevista à Folha, ele conta que a demanda da população por inclusão levou a GE a mudar a forma de trabalhar com governos no Brasil.

Com 36 anos de empresa, o executivo visita 50 países por ano. Falou à Folha em 2014, quando esteve no Rio por 12 horas para inaugurar o quinto centro de pesquisa que mantém no mundo. Com investimento de US$ 500 milhões, o projeto vai desenvolver pesquisa nas áreas de petróleo e gás, aviação e transporte ferroviário.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

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FOLHA - Quais são os planos da GE para um Brasil em fraco crescimento?

JOHN RICE - No curto prazo, o crescimento menor diminui os investimentos, muda os pedidos para um trimestre, quatro trimestres. Mas não muda os fundamentos sobre os quais criamos nossos negócios no Brasil nem o jeito como o vemos. Precisamos investir, desenvolver produtos em tecnologia.

A América Latina representa quase 9% do faturamento de US$ 100 bilhões da área de infraestrutura na GE. Nos próximos cinco anos, podemos crescer entre um dígito alto e dois dígitos baixos. As principais áreas serão óleo e gás, energia, aviação e cuidados de saúde.

Um PIB abaixo de 1%, como se prevê para 2014, assusta?

É uma fase de ajuste. Não vai demorar para o Brasil voltar ao caminho. Com baixo ou alto crescimento, o governo vai ter que trabalhar para encontrar caminhos de melhorar a infraestrutura.

GE acaba de abrir no Brasil um centro de pesquisa e pretende aumentar de 160 para 400 o número de pesquisadores até 2020. Encontrar gente qualificada é um problema?

Todo engenheiro formado nas escolas brasileiras é habilitado a trabalhar com a gente. Ser GE ajuda a atrair bons profissionais.

Em 35 anos na GE, eu pude ver toda a indústria de infraestrutura, então acho que é muito atraente. Temos cerca de 9 mil pessoas no Brasil. Não é estranho para nós treinar, desenvolver e promover pessoas no Brasil.

Os problemas da Petrobras, traduzidos em atrasos em pagamentos e demora em assinatura de contratos, e também da EBX, de quem a GE havia comprado 0,8%, afetaram muito os negócios?

Quando nossos clientes estão sob pressão por câmbio, preços de commodities, é quando eles mais precisam de nós. Quando olhamos um preço mais baixo do barril de petróleo, isso leva a Petrobras a ter outra avaliação sobre seus projetos e suas despesas.

Isso é um bom negócio que podemos fazer, fornecendo, por exemplo, soluções tecnológicas que reduzam o custo da extração de petróleo. Somos tão importantes para a Petrobras com o barril a US$ 70 quanto o éramos com o barril a US$ 120. Isso vale para qualquer indústria de que participamos. Temos uma situação financeira forte e é por isso que essas empresas fazem negócio com a GE.

As perdas com o grupo EBX traumatizaram a GE?

Não. Foi uma boa parceria. A situação da EBX não muda nossa visão do Brasil de ajudar nossos sócios em todos os passos. O Brasil precisa de mais gente assim, que toma riscos. Quando se fala do Vale do Silício, nos Estados Unidos, todo mundo fala dos projetos que dão certo, mas ninguém fala dos nove anteriores a cada um deles que deram errado. A GE tem que tomar riscos, está preparada para isso e saber fazer isso.

Em quais outras áreas é possível ampliar os negócios aqui?

Temos um bom negócio na área de equipamentos de saúde na qual podemos crescer no país. Trabalhamos muito com prefeitos para fornecer tecnologia que apoie seus esforços de oferecer mais saúde para as pessoas.

Então, não crescemos apenas em tecnologia, mas no atendimento a pessoas que estão na base da escala social, que estão demandando mais serviços e, assim, criam pressão no governo para fazer as coisas mais rapidamente.

Há 30 anos, entender os governos não era importante. Hoje, é. Temos que entendê-los e ajudar a alinhar suas prioridades. Os governos sabem que é preciso crescer de forma sustentável.

Qual é a visão da GE dos maiores problemas do país e do que é preciso melhorar?

O governo tem que trabalhar arduamente para reduzir a ineficiência. Fazer negócios aqui pode ser complicado. Há muitas regulações, exigências. Mover coisas dentro do país e para fora dele é complicado.

O Brasil também precisa ter uma agenda clara das prioridades, dizer o que vai fazer e seguir nesse plano. Na China, olham-se cinco anos adiante. Na Arábia Saudita, 20. Precisamos de apenas três ou quatro anos de previsibilidade para que companhias como a nossa se preparem melhor para investir mais e proponha soluções.

Como a GE viu a reeleição da presidente Dilma Rousseff?

Temos de ser apolíticos porque sabemos que, não importa quem dirija o país, ele vai se preocupar com a infraestrutura. Então, nosso objetivo não é trabalhar pela vitória de partidos, mas pelo país. Qualquer que seja o governante, estamos dentro.

RAIO X

JOHN RICE
57 anos, casado, mora em Hong Kong

Formação
Graduado em Economia pela Hamilton College em Clinton (NY)

Carreira
Na GE desde 1978, iniciou na área financeira. Trabalhou tanto na área de infraestrutura quanto de serviços financeiros., tendo passado por países como Canadá, Suíça, Cingapura e Hong Kong

RAIO X

GE

Sede
Fairfield, Connecticut (EUA)

Segmentos de atuação
Energia, Petróleo e gás, aviação, saúde, infraestrutura para indústria, transporte

Receita
US$ 146 bilhões (2013)

Lucro
US$ 24,5 bilhões (2013)

RAIO X

Ebitda

Países em que está presente
Mais de 140

Número de Funcionários no mundo
95 mil

Presença no Brasil
Desde 1919

Funcionários no Brasil
9 mil


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