Folha de S. Paulo


Preço do petróleo ainda deve sofrer solavancos, afirma agência do setor

O processo de reajuste do equilíbrio do mercado de petróleo deflagrado pelo colapso dos preços ainda não está concluído, e seria um erro presumir que ele vá transcorrer sem solavancos, alertou a Agência Internacional de Energia (AIE).

"À primeira vista, o preço do petróleo parece estar se estabilizando. Mas o balanço encontrado é muito precário", anunciou a agência de energia das nações ricas na sexta-feira em seu relatório mensal sobre o mercado do petróleo, um documento acompanhado com grande atenção pelo mercado.

Depois de atingir um pico de US$ 115 em junho, os preços do petróleo despencaram em mais de 50%, quando a alta na oferta ultrapassou fortemente a demanda mundial tépida.

A decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em novembro, de não reduzir sua produção a fim de sustentar os preços também está pesando sobre o mercado.

O petróleo padrão Brent, o referencial internacional para a commodity, chegou a cair a US$ 45 por barril em janeiro mas se recuperou posteriormente, por conta de notícias que apontam para um recuo na prospecção e problemas de investimento e oferta nos países produtores de petróleo.

Nas operações do começo da manhã de sexta-feira, o contrato Ice Brent para abril estava cotado a pouco menos de US$ 57 por barril.

OFERTA AMERICANA

Em seu relatório, a AIE informou que a ascensão da produção norte-americana, uma das principais responsáveis pelo excesso de oferta no mercado de petróleo, ainda não estava sofrendo as consequências da queda de preços.

"As quedas acentuadas na contagem de poços em operação nos Estados Unidos vêm sendo um importante propulsor da recuperação de preços.

Mas a oferta norte-americana até o momento mostra muito poucas indicações de desaceleração", o relatório afirma. "Pelo contrário: ela continua a desafiar as expectativas".

A produção total dos Estados Unidos atingiu a média de 12,6 milhões de barris diários em fevereiro, ante a média de 11,8 milhões de barris ao dia (b/d) em 2014.

"O crescimento da produção manteve o ritmo, e os dados preliminares sobre a produção de petróleo cru em março demonstram que ainda assim devemos esperar uma resposta em termos de oferta no segundo semestre de 2015, devido aos preços mais baixos e à alta nos estoques de petróleo cru dos Estados Unidos, que pode representar um desafio para a capacidade de armazenagem norte-americana", o relatório afirma.

A produção total dos Estados Unidos –que inclui petróleo cru e gás natural– deve cair no segundo trimestre deste ano e a previsão é que seja de em média 12,6 milhões de b/d em 2015, ou 760 mil b/d a mais do que no ano anterior.

Ainda que seja uma alta considerável, o resultado "empalidece" diante da alta média de 1,6 milhão de b/d na produção de 2014, de acordo com a AIE.

PAÍSES FORA DA OPEP PUXAM OFERTA

A oferta mundial de petróleo subiu em 1,3 milhão de b/d em fevereiro, para 94 milhões, ante o período em 2014. A principal causa foi um avanço de 270 mil b/d nos países que não integram a Opep, para 57,3 milhões de b/d, que coincidiu com uma queda de 90 mil b/d na produção da Opep, para 30,22 milhões de b/d. Perdas na Líbia e Iraque mais que compensaram a alta na produção da Arábia Saudita, Irã e Angola.

Do lado da demanda, a AIE informou que o crescimento do consumo atingiu os 900 mil b/d no trimestre final de 2014, ante o período no ano anterior, e um milhão de b/d no primeiro trimestre de 2015.

A AIE elevou sua projeção anual para o crescimento da demanda em 75 mil b/d, para um milhão de b/d, o que conduziria a demanda mundial para 93,5 milhões de b/d em 2015.

A demanda por petróleo cru e por derivados refinados, como a gasolina e óleo diesel, vem sendo sustentada por compradores oportunistas e operadores com interesse em apostas de armazenagem.

As refinarias estão se beneficiando de margens de lucro melhores.

"Surgiram sinais incipientes de uma recuperação na demanda, na virada do ano, mas é preciso enfatizar fortemente o termo 'incipiente'", a AIE afirmou.

A organização acrescentou que "existem poucos sinais firmes, a esta altura, de que os preços mais baixos estejam provendo estímulo real à economia. A China, por exemplo, continua se desaquecendo".

A projeção da AIE quanto a um crescimento de demanda mais alto levou a agência a elevar sua projeção sobre a produção de petróleo cru da Opep a 30,3 milhões de b/d, acima da meta oficial de 30 milhões de barris diários da organização.

A Opep –especialmente a Arábia Saudita, maior produtor e líder da organização para todos os fins práticos– vem tentando manter sua fatia de mercado, em meio à alta no suprimento por rivais que não fazem parte da organização.

Um período de queda de preços, ditado pelo mercado, colocaria pressão sobre os produtores de custo mais alto, como os Estados Unidos, Brasil e Rússia, e trabalharia em favor da Opep.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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