Folha de S. Paulo


Petrobras procura credores para blindar eventual atraso no balanço

A diretoria da Petrobras iniciou uma rodada de negociações com seus principais credores sobre a possibilidade de adiar por seis meses o prazo para entrega de seu balanço, segundo apurou a Folha com integrantes da alta administração da companhia e banqueiros procurados pela estatal.

Por contrato, bancos e detentores de títulos da dívida da empresa podem pedir o pagamento antecipado de seus empréstimos caso a companhia não divulgue o balanço do terceiro trimestre e o resultado anual de 2014 até o dia 31 de maio.

Nas últimas semanas, cerca de 15 instituições foram procuradas pela estatal.

O plano foi pensado para dar uma "margem de segurança" à Petrobras, que desde novembro adia a entrega dos resultados, enquanto tenta calcular os prejuízos causados pelo esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.

A prioridade da diretoria da estatal, comandada por Aldemir Bendine, ainda é entregar os resultados no prazo. Mas a empresa quer um acordo com os bancos para se proteger caso não consiga.

Em troca do adiamento do prazo por seis meses, a Petrobras discute uma remuneração adicional aos bancos, que pode ser comissão ou juros mais altos que os fixados nos contratos de dívida.

A estatal ainda está fazendo as contas para saber se vale a pena pagar por essa proteção. Esse tipo de negociação, conhecido no mercado como "consent solicitation", é muito usada nos Estados Unidos, onde estão alguns dos principais credores.

Banqueiros ouvidos pela Folha dizem que o plano pode ser bem-sucedido, já que há oportunidade de ganho adicional. Além disso, eles reconhecem que a cobrança antecipada da dívida poderia ferir ainda mais a companhia.

De acordo com a Moody´s, cerca de US$ 110 bilhões em dívidas, ou quase tudo que a empresa deve em dólar, podem ter seu vencimento antecipado caso a estatal não apresente o resultado anual até o final de maio.

O prazo vence em 30 dia de abril, mas o contrato prevê 30 dias de tolerância.

A ideia de buscar o prazo adicional surgiu ainda durante a gestão de Graça Foster. O ex-diretor financeiro, Almir Barbassa, havia levado o tema ao conselho de administração, que considerou "prudente" tomar a medida.

O ex-executivo, contudo, não levou o plano adiante.

Com a posse da atual diretoria, o novo diretor financeiro, Ivan Monteiro, colocou a ideia em prática. Bem relacionado, entrou em contato com os banqueiros mais próximos e escalou sua equipe para negociar com os demais.

Editoria de Arte/Folhapress

DIFICULDADES

O principal problema da Petrobras no momento é chegar a um número confiável para as perdas provocadas pelo esquema de pagamento de propina a ex-funcionários e políticos em troca de contratos na estatal.

A auditoria independente PWC recusou-se a assinar o balanço diante da ausência do cálculo. A estatal também precisa esclarecer ao mercado quanto valem alguns de seus principais ativos hoje, como as refinarias Abreu e Lima e Comperj, cujas obras foram superfaturadas de acordo com as investigações da Polícia Federal.

A estimativa, contudo, não é simples. A estatal montou uma força-tarefa para analisar os depoimentos dos delatores para chegar a uma média das propinas pagas.


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