Folha de S. Paulo


Novo PIB vai exacerbar crises de 2015 com Lava Jato e uso de termelétricas

A nova metodologia de cálculo do PIB, que ampliou o tamanho da economia brasileira, vai salvar 2014 de uma recessão. No entanto, deve exacerbar os problemas de 2015, como os desdobramentos da Operação Lava Jato no setor de óleo e gás e os impactos da crise hídrica no país.

Isso porque aumentou o peso dos investimentos na economia, que agora englobam também gastos com pesquisa e propriedade intelectual, até então contabilizados como despesas de produção.

Como a Petrobras era a empresa que mais investia no segmento, vai contribuir mais com o PIB entre 2011 e 2014.

Neste ano, por outro lado, a suspensão dos contratos da Petrobras com as empresas citadas na Lava Jato, além da redução no programa de investimentos e o preço menor do petróleo, devem reduzir sua contribuição para o PIB.

O uso mais intenso das usinas termelétricas com a estiagem também deve contribuir negativamente, pois o custo maior com combustível reduz a fatia da produção de energia no PIB.

A previsão dos economistas é de retração de até 10% nos investimentos em 2015.

Sérgio Vale, da MB & Associados, prevê uma contração da economia de 1% neste ano, amplificada pelo tombo de 9% dos investimentos.

"Vamos ver no primeiro e segundo trimestres deste ano um impacto importante da Lava Jato no setor de óleo e gás e também na economia do Estado do Rio", disse Ricardo Macedo, economista do Ibmec do Rio.

"É legítimo concluir que o investimento menor em 2015 –não só no setor de óleo e gás, mas em toda a economia– vão ter um impacto maior no resultado do PIB", disse Caio Megale, do Itaú.

Editoria de Arte/Folhapress

2014 SALVO

Já o desempenho do PIB em 2014, cujas previsões apontavam para leve retração até alta de 0,14%, deverá escapar de uma recessão pelo chamado "carregamento estatístico", uma espécie de crescimento inercial da economia. Esse "carregamento", dizem analistas, depende do ritmo de crescimento do ano anterior, no caso de 2013.

Os dados só serão divulgados pelo IBGE no final do mês, mas devem ser beneficiados pela expansão mais robusta da economia em 2011 –revisada de 2,7% para 3,9%, conforme a Folha antecipou.

Outro empurrão virá da perda de peso da indústria no PIB, especialmente do segmento de transformação (exclui a extrativa, a construção e os serviços públicos), que teve uma forte contração no ano passado. Sua participação no PIB, após a revisão metodológica do IBGE, caiu de 16,2% na série antiga do instituto para 15% na nova.

"A indústria teve um desempenho muito fraco nos últimos anos. Agora, o menor peso ajuda a evitar uma queda do PIB de 2014", diz Marcel Caparoz, economista da RC Consultores.

A indústria cedeu terreno para os serviços, que vinham tendo desempenho mais forte nos últimos anos.

Em 2015, porém, serviços, o maior setor da economia, já mostra sinais de desaceleração com a freada do mercado de trabalho, tendência que deve se agravar até o fim do ano, segundo Caparoz.


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