Folha de S. Paulo


Setor sucroenergético deve chegar a 60 usinas fechadas no país neste ano

As dificuldades financeiras enfrentadas pelas usinas de açúcar e etanol, impulsionadas pela crise na economia global, devem resultar em pelo menos dez unidades fechadas na safra 2015/16 em Estados do centro-sul do país, como São Paulo e Minas.

Além disso, o setor, que já sofreu o fechamento de 50 usinas desde 2008, de um total de cerca de 370, está travado, sem receber investimentos.

Essa é a estimativa de entidades como Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) e Udop (União dos Produtores de Bioenergia).

Lalo de Almeida - 13.dez.2011/Folhapress
Máquina em campo da usina Bom Retiro, em Capivari, uma das que deixou de funcionar
Máquina em campo da usina Bom Retiro, em Capivari, uma das que deixou de funcionar

Isso não significa que as usinas fecharão as portas definitivamente, mas não estão moendo cana-de-açúcar por falta de recursos financeiros ou por adequações logísticas.

"Para evitar a paralisação das usinas, é preciso um 'Proer do etanol'. É o que o setor precisa", afirmou o presidente da Udop, Celso Torquato Junqueira Franco.

O Proer foi um programa implementado em 1995 no governo do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para sanear instituições bancárias em dificuldades financeiras.

A medida já foi defendida pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues no segundo semestre do ano passado e é tema frequente no mercado sucroenergético.

Além dos problemas financeiros, o setor ainda enfrenta reflexos da crise hídrica, que vai "engolir" parte dos benefícios obtidos pelo setor, como o aumento da mistura do etanol à gasolina e a cobrança da Cide nesse combustível. As medidas devem gerar receita estimada em R$ 4 milhões, enquanto a seca pode gerar perdas de até R$ 2,4 bilhões no ano, segundo a Udop

DÍVIDAS DO SETOR

Na safra 2014/15, 12 usinas já tinham deixado de produzir açúcar, álcool e eletricidade, e deverão permanecer paradas neste ano.

Um estudo feito em 2014 pela consultoria MBF Agribusiness, de Sertãozinho (SP), mostrou que a dívida das usinas que entraram em recuperação judicial soma R$ 13 bilhões. Das 67 que entraram nessa condição em seis anos, 40 não estão moendo cana –embora nem todas estejam oficialmente fechadas.

Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), disse que a paralisação das atividades é consequência da crise pela qual o setor passa.

"Em algumas, [o fechamento] já é oficial, como a antiga usina Amália. A Raízen também tomou a decisão de não processar cana em uma de suas usinas", afirmou. Ele se refere à usina Bom Retiro, uma das 24 unidades do grupo que suspendeu as atividades industriais por dois anos.

A cadeia sucroenergética perdeu 300 mil empregos nos últimos anos, segundo o setor. Em Sertãozinho (SP), onde nove em cada dez fábricas produzem componentes para usinas, 2.046 empregos desapareceram das indústrias em 2014, o que motivou um protesto que reuniu 20 mil pessoas em janeiro.

SEM INVESTIMENTO

Sócio da FG Agro, Willian Hernandes disse que o problema maior não é o que ocorreu em termos financeiros no ano passado, mas o acumulado de dívidas ao longo dos últimos anos.

"O histórico de fluxos de caixa anteriores, combinado a um cenário adverso, provocou isso. Neste ano, todas as empresas vão sofrer, da Petrobras às micro e pequenas."

De acordo com ele, no entanto, o fechamento de usinas não deverá ocorrer em massa e o principal problema é que o setor não recebe novos investimentos.

"Nos últimos anos, o setor cresceu a uma média de 6,7% ao ano. Hoje cresce 0%. Ele impulsionava a economia e não impulsiona mais, por causa da falta de investimento", afirmou.


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