Folha de S. Paulo


Fabricante gaúcha de artigos eróticos sofre para preencher vagas de trabalho

A abundância de matéria-prima cor-de-rosa e o aroma adocicado no ar denunciam que ali se fabricam brinquedos. Os produtos, no entanto, não são para crianças, mas artigos eróticos.

Das fábricas da Sexy Fantasy, em Caxias do Sul (a 120 km de Porto Alegre), saem próteses de pênis, vagina, cosméticos, roupas íntimas e até uma nova linha sadomasoquista inspirada no best-seller "50 Tons de Cinza". O destino desses produtos são sex shops de todo o Brasil.

A empresa, que tem 70 funcionários e é líder na produção de produtos eróticos no Sul e terceira maior do país, enfrenta dificuldades para achar mão de obra, apesar de haver mais desempregados das indústrias da Serra Gaúcha. No ano passado, mais de 3.000 vagas do setor foram fechadas naquela região.

O motivo é que os trabalhadores ou evitam procurar trabalho na fábrica ou, quando ingressam na empresa, ficam pouco tempo na função –em média, um ano.

Segundo o departamento de recursos humanos da Sexy Fantasy, é comum mulheres desistirem da vaga após a entrevista. Dizem que vão "falar com o marido" e a maioria não volta.

A rejeição e a rotatividade ocorrem apesar dos benefícios –carteira assinada, plano de saúde, vale-transporte, vale-refeição, cesta básica e plano em farmácias– e do salário médio de R$ 1.000.

Para não espantar possíveis candidatos às vagas, a analista de RH da fábrica Andréia Reis Fogaça, 32, orienta as agências de emprego a não informar sobre o ramo de atuação da empresa.

"Prefiro explicar pessoalmente, quando o interessado vem até o escritório", diz.

Para vagas anunciadas em classificados de jornal, a estratégia é parecida. Os anúncios falam apenas de vaga em "indústria de plástico".

A preocupação é para que os candidatos suportem o preconceito. Até mesmo Andréia ficou constrangida ao contar aos conhecidos sobre seu novo emprego. "Mas hoje tenho prazer em dizer onde trabalho", relata.

Apesar da estratégia, no início deste ano a empresa ficou dois meses sem conseguir preencher suas vagas.

SEM PRECONCEITO

Uma das funcionárias mais antigas é Kennya Capra Machado, 23. Inicialmente na área de vendas, enfrentou os pais, aos 17 anos, para permanecer na vaga. Conseguiu.

Por sete anos apresentou produtos em feiras e fechou vendas por telefone. As dúvidas mais comuns dos clientes, ela conta, eram tamanho de vibradores, efeitos de cosméticos e cores das vaginas.

Hoje, Kennya é coordenadora de marketing e explica como o trabalho é "simples". "É como fazer pão. Coloca a massa na forma, liga o forno e pronto. Não tem mistério."

Carla Mota, 38, diz que adora o trabalho que faz. Funcionária há um ano, ela é responsável pelo acabamento das peças e da embalagem. "É sempre divertido, não tem mulher triste", brinca.


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