Folha de S. Paulo


Índice oficial de inflação sobe 7,7% em 12 meses, a maior alta desde 2005

O IPCA, índice oficial de inflação e que serve de base para a decisão do Banco Central de subir ou não a taxa de juros do país, segue sob forte pressão. Os dados foram divulgados pelo IBGE na manhã desta sexta-feira (6).

O índice em 12 meses subiu 7,7%, mais que os 7,14% registrados no mesmo período até janeiro. É o maior aumento em 12 meses desde o período encerrado em maio de 2005 (alta de 8,05%). O resultado é superior aos 7,56% do centro das apostas (mediana) de analistas de bancos e consultorias, segundo pesquisa da agência internacional Bloomberg.

O índice fechou fevereiro com alta de 1,22%. Em janeiro, o aumento havia sido de 1,24%.

MOTIVOS

Os principais motivos foram a alta dos preços controlados pelo governo, sobretudo energia e gasolina.

Energia elétrica subiu 3,14% (que faz parte do setor habitação –veja gráfico), segundo o índice. Gasolina (no segmento transportes), 8,42%, e a alta em educação foi de 5,83%. Os alimentos ficaram 0,81% mais caros, mas em um ritmo inferior ao da inflação média.

inflação

Em fevereiro de 2014, a inflação fora mais moderada: 0,55%. O índice de fevereiro deste ano ficou acima do centro das expectativas de analistas ouvidos pela Bloomberg, de 1,08%.

Trata-de do segundo mês seguido com alta superior a 1%, algo inédito desde o primeiro trimestre de 2003, quando o país vivia a crise após a eleição do ex-presidente Lula em 2003, que fez o dólar disparar para R$ 4.

PERSPECTIVAS

A forte alta recente do câmbio (e seus impactos sobre preços de alimentos cotados em dólar e produtos importados) é uma incerteza a mais para o já complicado cenário de inflação, que pode levar a taxa do ano a superar as previsões de uma alta de em torno de 7,5% neste ano, segundo analistas.

A LCA, por exemplo, espera uma taxa maior do que o ponto central das estimativas de analistas. Prevê 7,86%, com principal contribuição vindo do pesado reajuste da energia –na faixa de 55% neste ano.

INFLAÇÃO POR SETOR

Com a forte alta da gasolina, sob impacto do aumento de tributos, o grupo transportes subiu 2,2% em fevereiro, mais do que o desempenho de 1,83% de janeiro. Ainda em transportes, destacaram-se os aumentos de outros importantes itens de consumo das famílias etanol (7,19%), automóvel novo (2,88%, variação ocorrida após o fim do IPI reduzido ) e ônibus urbano (2,73%) –este último item subiu em várias capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador.

Já a energia não contabiliza ainda o reajuste das tarifas anuais da Aneel (estimado, em média, em 32%). Apenas uma das distribuidores de São Paulo teve autorização para elevar as contas. O impacto principal veio da adoção das bandeiras tarifárias, que elevam a conta quando são usadas as termelétricas, com custo maior. Atualmente, a bandeira é vermelha e aponta o uso mais intensivo dessa fonte de geração mais cara.

O aumento da educação ocorreu em razão do reajuste anual das mensalidades escolares. Trata-se de uma pressão pontual e que não se repete nos próximos meses.

Para analistas, os juros mais altos (nesta semana a Selic foi elevada para 12,5%) tem um efeito limitado para conter a inflação, pois boa parte dos aumentos são de preços públicos, administrados pelo governo.

A forte alta da inflação, porém, corrói a renda disponível dos consumidores, que tendem a focar seus gastos em produtos mais essenciais e nos serviços públicos indispensáveis, como água, energia e transporte.


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