Folha de S. Paulo


Apenas Brasil e Ucrânia subiram juros neste ano entre 34 países

Ao elevar a taxa básica de juros na noite desta quarta-feira (4), o Brasil seguiu na contramão das principais economias do mundo.

Neste ano, apenas a Ucrânia e o governo brasileiro aumentaram os juros em uma lista de 34 países pesquisados pela Folha.

A tendência em quase todos é de redução da taxa.

Do total, 28 nações promoveram corte nos juros na última vez em que a autoridade monetária anunciou alguma modificação na taxa.

África do Sul, Malásia, Nova Zelândia e Filipinas elevaram suas taxas entre julho e setembro de 2014. Em 2015, ainda não confirmaram novas altas.

ESTÍMULO AO CONSUMO

Na maior parte dos países, há preocupação dos governos com o ritmo de crescimento da economia. Ao reduzir os juros, eles tentam estimular o consumo.

O movimento tem ocorrido tanto em economias desenvolvidas como em países considerados emergentes.

No mês passado, ao mesmo tempo em que a Suécia cortava sua taxa em 0,1 ponto percentual, China e Indonésia também reduziam os juros em 0,25 ponto percentual.

INFLAÇÃO NO BRASIL

No Brasil, apesar de analistas apontarem para recessão econômica neste ano, o governo vem sendo forçado a elevar a taxa na tentativa de conter a inflação.

O aumento anunciado pelo Banco Central brasileiro na noite desta quarta (4) foi o quarto seguido desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Com ele, a Selic, como é chamada a taxa, passou de 12,25% ao ano para 12,75% ao ano. É o maior valor desde março de 2009. Em outubro de 2014, quando houve eleições, ela estava em 11% ao ano.

A taxa serve como referência para o custo do dinheiro na economia. Ao elevá-la, o governo tenta reduzir o consumo, já que pegar empréstimos e fazer compras parceladas tende a ficar mais caro. Com a demanda em queda, há menos estímulo para inflação.

A alta dos preços segue persistente desde o ano passado. Para 2015, a expectativa é que a inflação fique em 7,47%, segundo projeções de analistas de mercado divulgadas no boletim Focus, do Banco Central.

Caso a estimativa se confirme, haverá estouro da meta imposta pelo governo de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima.

RECESSÃO

As incertezas dos investidores em relação ao país têm elevado a cotação do dólar, aumentando a pressão sobre a inflação. A moeda encostou em R$ 3 pelo segundo dia seguido nesta quinta (5).

O governo brasileiro tem atuado por meio do aumento de juros, aumento de impostos e corte de benefícios tributários a empresas.

Os dois movimentos, contudo, ajudam a intensificar a queda do ritmo da economia.

Com o crédito mais caro e mais impostos a pagar, os empresários tendem a reduzir investimentos e o consumidor a comprar menos.

A estimativa dos analistas é encolhimento de 0,58% do PIB [Produto Interno Bruto] em 2015.

Taxas de juros (em % ao ano) e últimas alterações (em pontos percentuais)
País Taxa atual Data do último ajuste Última alteração
Ucrânia 30 mar.2015 10,5
Rússia 15 jan.2015 -5
Nigéria 13 out.2014 1
Brasil 12,75 mar.2015 0.5
Paquistão 8,5 jan.2015 -1
Turquia 7,5 mar.2015 -0,25
Índia 7,5 fev.2015 -0,25
Indonésia 7,5 fev.2015 -0,25
Sri Lanka 6,5 out.2013 -0,25
África do Sul 5,75 jul.2014 0,25
China 5,35 fev.2015 -0,25
Qatar 5,35 fev.2015 -0,5
Colômbia 4,5 ago.2014 0,25
Filipinas 4 set.2014 0,25
Nova Zelândia 3,5 jul.2014 0,25
Malásia 3,25 jul.2014 0,25
Peru 3,25 jan.2015 -0,25
Chile 3 out.2014 -0,25
México 3 jun.2014 -0,5
Romênia 2,25 fev.2015 -0,25
Austrália 2,25 fev.2015 -0,25
Hungria 2,1 jul.2014 -0,2
Arábia Saudita 2 jan.2009 -0,5
Coreia do Sul 2 out.2014 -0,25
Polônia 1,5 mar.2015 -0,5
Emirados Árabes Unidos 1 mar.2015 -0,5
Canadá 0,75 jan.2015 -0,25
Reino Unido 0,5 mar.2009 -0,5
Zona do euro 0,5 set.2014 -0,1
Estados Unidos de 0 a 0,25 dez.2008 -0,75
Japão 0,1 out.2010 -0,1
Israel 0,1 fev.2015 -0,15
Suécia -0,1 fev.2015 -0,1
Suíça -0,75 jan.2015 -0,5
Dinamarca -0,75 fev.2015 -0,25

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