Folha de S. Paulo


Dólar bate R$ 3 pelo segundo dia, mesmo com alta de juros

O dólar tem nova alta em relação ao real nesta quinta-feira (5) e bate R$ 3 pelo segundo dia seguido, mesmo com o aumento da taxa básica de juros no país na noite desta quarta (4).

Às 14h23, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, tinha alta de 0,76%, a R$ 3. No mesmo horário, o dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, subia 0,73%, a R$ 3,002.

O aumento do juro básico (taxa Selic) foi praticamente desconsiderado pelo mercado. Com a alta de juros, o governo tenta controlar a inflação e, ao mesmo tempo, capturar mais investidores estrangeiros em busca de uma remuneração mais alta. O aumento dos juros, em tese, deixa os títulos brasileiros, remunerados pela taxa, mais atraentes.

"A alta da Selic já estava no preço, pois a equipe econômica já tem dado um viés de alta na taxa de juros há algum tempo", diz Fabiano Rufato, gerente-sênior da mesa de câmbio da corretora Western Union.

A instabilidade no cenário político e a perspectiva de rebaixamento da nota de crédito do Brasil, porém, continuam a afugentar investidores externos, afirma. E com a perspectiva de menos entrada de dólares no país, o preço da moeda sobe em relação ao real.

"Há todo um time de agência de classificação de risco no país fazendo reavaliando da nota do país. Ao mesmo tempo, o ministro da Fazenda tenta fazer o ajuste fiscal, mas a cena política não deixa", ressalta Rufato.

O ajuste fiscal é um dos pontos mais sensíveis no momento, após o Congresso devolver a medida provisória que aumentava tributos pagos por empresas de vários setores, apresentada pelo governo no fim da semana passada.

Em relatório, Marco Aurélio Barbosa, analista da CM Capital Markets, afirma que a equipe econômica poderia realizar um ajuste fiscal de R$ 87 bilhões sem "passar pelo Congresso", pois 78% dos R$ 111 bilhões pretendidos cabem ao Executivo. "Todavia, esses nada desprezíveis R$ 24 bilhões, caso não sejam aprovados, podem ser decisivos para que a nota de crédito do Brasil seja rebaixada", diz.

O valor é necessário para o governo atingir a meta de superavit primário, a economia feita para pagar juros da dívida pública, de 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano.

Em setembro do ano passado a agência de classificação de risco Moody's colocou a nota do país em perspectiva negativa. Atualmente, o Brasil tem nota Baa2 na agência, o que indica grau de investimento (selo de local seguro para se investir) com risco de calote moderado. É o segundo acima do grau especulativo, de menor segurança para os investidores (maior risco de calote).

Na Standard & Poor's, o país tem nota BBB-, a última de grau de investimento na agência. Caso seja rebaixado novamente por essa agência, o país passará ao grau especulativo na avaliação da S&P. Na Fitch, a nota brasileira é de BBB, com perspectiva estável.

Dados do exterior também estão no radar nesta sessão. Na Europa, o BCE (Banco Central Europeu) deixou a taxa referencial de refinanciamento, que determina o custo do crédito na economia, inalterada em 0,05%. O BCE também manteve a taxa sobre depósitos em -0,20%, o que significa que bancos precisam pagar para manter fundos no banco central, e manteve sua taxa de empréstimo em 0,30%.

O Banco Central deu continuidade às suas atuações diárias no mercado de câmbio nesta manhã, vendendo 2.000 contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro). Foram vendidos 1.700 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 300 para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a US$ 98,3 milhões.

O BC também vendeu a oferta total no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, foram rolados cerca de 14% do lote total, que corresponde a US$ 9,964 bilhões.

BOLSA

O principal índice da Bolsa brasileira opera em baixa nesta sessão, após despencar 1,63% no dia anterior. Às 14h23, o Ibovespa caía 0,47%, a 50.230 pontos. Das 68 ações negociadas, 32 subiam, 35 caíam e uma se mantinha inalterada no horário.

"Tivemos ontem uma queda forte por causa da medida provisória que foi devolvida pelo Renan Calheiros e que causou insegurança aos investidores por envolver diretamente as novas medidas que vão ajudar na retomada da economia e equilíbrio dos gastos públicos", afirma André Moraes, analista da corretora Rico.

Destaque para os papéis de siderúrgicas, que sobem no pregão. Às 14h24, os papéis preferenciais da Usiminas tinham alta de 1,12%, a R$ 4,49. As ações ordinárias, porém, despencavam 11,86%, a R$ 10,77.

Os papéis da Gerdau sobem pelo segundo dia seguido. Às 14h24, as ações da empresa tinham alta de 1,72%, a R$ 10,61, enquanto os da Metalúrgica Gerdau avançavam 1,83%, a R$ 11,68, no horário.

As ações da Petrobras operam em baixa. Às 14h25, os papéis preferenciais da empresa, mais negociados e sem direito a voto, caíam 0,21%, a R$ 9,19. As ações ordinárias, com direito a voto, tinham queda de 0,32%, a R$ 9,12.

O Conselho de Administração da Petrobras autorizou a companhia a captar até US$ 19,1 bilhões líquidos em recursos ao longo de 2015, segundo comunicado divulgado nesta quinta-feira, referindo-se a uma decisão do colegiado tomada em reunião na última sexta-feira.

As ações da Embraer operam com forte queda nesta sessão. Às 14h25, os papéis da empresa caíam 6,43%, a R$ 24, após o lucro da companhia ter vindo abaixo do esperado pelo mercado.

A fabricante de aeronaves teve lucro líquido de R$ 242 milhões no quarto trimestre, forte queda frente aos R$ 607,2 milhões do mesmo período de 2013, com receitas praticamente estáveis e aumento do endividamento.


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