Folha de S. Paulo


Analistas veem com ceticismo aval para a Petrobras captar US$ 19 bi

O Conselho de Administração da Petrobras deu sinal verde, em sua mais recente reunião, na sexta (27), para a empresa levantar financiamentos no mercado no valor de até US$ 19 bilhões (R$ 57 bilhões a valores atuais) neste ano.

Analistas e banqueiros enxergam, porém, a cifra com ceticismo e não acreditam que a empresa conseguirá obter recursos nesse montante, revelado pelo jornal "Estado de S. Paulo" nesta quarta (4).

Nem a pessoa ligada à companhia que confirmou a informação à reportagem se mostrou otimista. Disse tratar-se só de "uma autorização" dada pelo conselho, que pode não se concretizar –ressalva que foi feita na reunião pelo próprio diretor financeiro da estatal, Ivan Monteiro.

Um grupo de executivos de bancos participou de outra reunião com integrantes da área financeira da estatal para tratar da possibilidade de captar dinheiro no exterior. Nela, alertou para o fato de que o mercado está fechado para a companhia e é inviável obter recursos neste ano, mesmo após a publicação do balanço auditado. A falta desse documento impede legalmente hoje a companhia de tomar recursos emprestados.

A recomendação foi realizar visitas e apresentações a investidores ("roadshows", no jargão do mercado) apenas no final deste ano para testar a aceitação de uma operação –que provavelmente só se concretizaria em 2016.

O motivo da descrença é que investidores temem comprar títulos de uma empresa já muito endividada. Para isso, cobrariam juros altos e pediriam mais garantias.

Na gestão anterior, de Graça Foster, a ideia era gastar o menos possível (por isso o adiamento e a paralisação de vários projetos) para poupar o caixa da companhia e obter empréstimos de, no máximo, R$ 6 bilhões –a maior parte de bancos públicos.

Ricardo Borges/Folhapress
Policiais escoltam metalúrgicos, trabalhadores do Comperj e do setor naval durante manifestação contra demissões na frente da sede da Petrobras, no Rio
Policiais escoltam metalúrgicos, trabalhadores do Comperj e do setor naval durante manifestação contra demissões na frente da sede da Petrobras, no Rio

A nova administração, do presidente Aldemir Bendine, porém, vê algum espaço para captações. Dois são os motivos para conseguir mais recursos: obrigações para pagar dívidas de curto prazo e investir em equipamentos para o pré-sal, que já teriam de ser comprados no início de 2016.

Em 30 de setembro de 2014 (dado mais recente disponível), a estatal tinha dívidas de R$ 28,2 bilhões, na época, com vencimento de até um ano. O endividamento líquido (descontados os fundos em caixa para quitar débitos) era de R$ 261,5 bilhões, 18% a mais do que no fim de 2013. Os débitos de curto prazo apresentaram, na ocasião, expansão maior –de 50%.

Para Marco Aurélio Barbosa, analista da CM Capital, é mais vantajoso para a estatal conseguir recursos de bancos públicos a um custo menor, como os do BNDES.

Um termômetro do estrangulamento das finanças é a alavancagem (relação entre dívida e a capacidade geração de caixa), que era de 2,77 vezes em 2012 e passou para 4,63 vezes no fim de setembro.

Se a empresa captar mais sem a contrapartida de aumento do caixa (com a aceleração da produção, por exemplo), esse balizador da dívida irá se deteriorar mais.


Endereço da página: