Folha de S. Paulo


Análise: Desemprego poderá dar salto considerável em 2015

O desemprego em patamar baixo era, até então, o indicador conjuntural mais saudável, e, usando um jargão do mercado, "fora da curva", de uma economia muito enfraquecida.

O aumento acima do esperado da parcela de brasileiros desocupados em janeiro pode marcar o fim desse descasamento.

A taxa de desocupação deu um salto considerável, passando de 4,3% em dezembro de 2014 para 5,3% em janeiro deste ano. O movimento de alta nesse período é natural, reflete o fim da contratação de trabalhadores temporários para a produção e as vendas do Natal.

Mas o aumento verificado pelo IBGE agora foi o mais alto desde a passagem de 2008 para 2009, auge da crise financeira global, quando a taxa de desemprego havia subido de 6,8% para 8,2%.

O ajuste não é surpresa para economistas e empresários, que já antecipavam esse movimento há meses. A fraca geração de vagas no mercado de trabalho formal em 2014 prenunciava uma elevação da taxa de desemprego.

Mesmo com crescimento econômico fraco nos últimos anos, a parcela de brasileiros desocupados se mantinha em nível historicamente baixo.

A forte expansão da economia em meados da década passada levou a uma grande absorção pelo mercado de trabalho tanto dos profissionais mais qualificados quanto dos menos educados.

O aquecimento levou a um significativo aumento de salários em ritmo bem mais alto do que a expansão da eficiência da economia, o que colocou pressão nos custos das empresas.

FIM DA ESPERA

No entanto, mesmo com a desaceleração de anos recentes, empresários preferiram segurar sua mão de obra. A aposta parecia ser a de que a perda de fôlego da economia poderia ser passageira. Como os custos para demitir e contratar funcionários no Brasil são muito altos, poderia valer a pena comprimir as margens de lucros por um tempo à espera da retomada.

O problema é que a retomada não veio e as perspectivas pioraram ainda mais para este ano. A expectativa é de recessão em 2015.

O que o dado de desemprego de janeiro parece mostrar é que uma onda mais forte de demissões pode ter começado.

A questão é até que nível o desemprego subirá?

É uma trajetória difícil de prever porque, além da resistência das empresas em demitir, outra mudança que explicou o desemprego baixo dos últimos anos foi uma redução da parcela de brasileiros em idade ativa no mercado de trabalho.

Muitos desses profissionais são jovens de 18 a 24 anos que podem ter preferido se dedicar aos estudos. Outra parcela são mulheres em grandes centros urbanos que, com o aumento da renda dos maridos e a elevação do custo de vida e do tempo de deslocamento nas metrópoles, podem ter optado por cuidar dos filhos.

CENÁRIOS

Essas são hipóteses levantadas por especialistas. A grande dúvida é como reagirá esse contingente de inativos daqui para a frente.

Se eles continuarem fora do mercado, a taxa de desemprego tende a subir menos. Se precisarem voltar a trabalhar, a desocupação poderá dar um salto considerável.

Em análise sobre os dados de janeiro, Alexandre Schwartsman, economista e colunista da Folha, estima que, no primeiro cenário, o desemprego poderá subir para algo entre 6,5% e 7% em 2015 se o PIB (Produto Interno Bruto) encolher 0,5% neste ano.

No segundo cenário, com a mesma contração econômica, o salto seria bem maior, para aproximadamente 8% ou 8,5%.

Mas e se o PIB encolher mais do que 0,5% em 2015 como projetam alguns economistas? É mais uma das muitas perguntas difíceis sobre os riscos que o Brasil enfrenta neste ano.


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