Folha de S. Paulo


Sabesp estuda pedir reajuste acima da inflação para equilibrar contas

A Sabesp, empresa de saneamento paulista, estuda propor uma revisão tarifária extraordinária além do reajuste pela inflação previsto para abril, a fim de tentar mitigar a forte deterioração de sua situação financeira.

A revisão extraordinária teria de ser aprovada pela Arsesp, autoridade regulatória do setor. O principal argumento para o reajuste acima do previsto é o aumento do custo de energia elétrica que não estava previsto no plano de negócios da empresa, aprovado em 2014.

Zanone Fraissat/Folhapress
Obras para captação de água do volume morto do sistema Cantareira, em Joanópolis (SP)
Obras para captação de água do volume morto do sistema Cantareira, em Joanópolis (SP)

Se efetuado, o pedido fará parte de um arsenal de medidas que a Sabesp tem adotado para tentar manter seu equilíbrio financeiro em meio a choques negativos que incluem, além da crise hídrica, o aumento de sua dívida em dólar, que não conta com proteção contra desvalorização cambial (hedge).

"Claramente, a Sabesp está sob uma situação de estresse financeiro. Estamos reagindo com unhas e dentes para manter a situação financeira sustentável", disse à Folha Rui Affonso, diretor financeiro e de relações com investidores da empresa.

A crise hídrica afeta as contas da empresa por dois canais principais.

Por um lado, tem levado a forte redução da receita em consequência da diminuição do consumo de água e do desconto concedido a clientes que conseguem economizar.

Por outro, tem obrigado a Sabesp a fazer investimentos emergenciais para tentar garantir o fornecimento de água.

FALTA DE PROTEÇÃO

Além disso, quase 40% da dívida da empresa –que somava R$ 9,6 bilhões no terceiro trimestre de 2014– é denominada em moeda estrangeira, principalmente dólar. Mas a Sabesp não conta com instrumento financeiro que protegeria esse tipo de endividamento de uma desvalorização cambial (hedge). Isso significa que a depreciação recente do real tem feito o valor da dívida aumentar.

Como a maior parte do endividamento externo da empresa é de longo prazo e contraída a juros baixos em instituições multilaterais, seu aumento tem pouco impacto no caixa da empresa, pois não implica amortizações substancialmente maiores.

No entanto, a depreciação do real afeta o balanço da Sabesp, piorando seus indicadores financeiros. Contribui, por exemplo, para um aumento da relação entre o valor da dívida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

Importante indicador de saúde financeira de uma empresa, essa relação, que já tinha subido de 2,3 para 2,9 entre o primeiro e o terceiro trimestres de 2014, piorou.

O risco que a empresa tenta evitar é que a deterioração dos indicadores financeiros a leve a descumprir cláusulas contratuais com credores (chamadas "covenants") que visam protegê-los do risco de insolvência.

Segundo Affonso, a empresa tem conseguido manter os indicadores ainda longe dos níveis que levariam à quebra dessas cláusulas.

"Precisamos evitar isso de toda forma porque prejudicaria o acesso da empresa a crédito, que é fundamental para garantir os investimentos da empresa", afirma Affonso.

Em 2014, a Sabesp cortou R$ 1,1 bilhão em despesas para compensar a deterioração das suas finanças.

"Tudo o que podíamos cortar cortamos. Despesas que não atendiam a prioridade absoluta de manter a população abastecida foram postergadas." Em 2015, segundo o diretor financeiro da Sabesp, os cortes serão aprofundados.

Os investimentos emergenciais serão cobertos pelo caixa da empresa e pela antecipação de desembolsos de dívida que ocorreriam à frente.

REAJUSTES ANTERIORES

É nesse contexto de administração espartana das contas que a empresa estuda pedir outra revisão tarifária extraordinária em 2015.

Um reajuste desse tipo já havia ocorrido no ano passado, parte de revisões feitas a cada quatro anos para garantir o equilíbrio financeiro das concessionárias.

O reajuste deveria ter sido aplicado em abril de 2014, mas foi postergado para dezembro e ficou em 6,49%.

Para abril deste ano, está previsto, com autorização da Arsesp, um reajuste apenas para repor a inflação. O mercado estima um aumento da tarifa de cerca de 5,5%.

Mas a Sabesp considera solicitar uma revisão extraordinária, que pode ser concedida quando custos imprevistos no plano de negócios ameaçam as contas.

O argumento estudado pela empresa é que o reajuste da energia elétrica –custo importante na operação de abastecimento de água– não era previsto na magnitude em que tem ocorrido.

Segundo Affonso, a Sabesp esperava que o custo de energia estivesse cerca de 15% abaixo do atual. Além disso, pondera, aumentará mais.

"Manter a estabilidade financeira da empresa também é uma das funções da agência reguladora", afirma.

FAZENDO ÁGUA

R$ 1,5 bi
Foi a perda de receita da Sabesp em 2014 com o programa de bônus na conta

R$ 1,1 bi
Foi o corte de gastos feito pela empresa para compensar despesas imprevistas


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