Folha de S. Paulo


Empresas apostam em strippers virtuais com uso de site de pagamento

Durante sete horas por dia, a estudante de fisioterapia Priscilla, 22, é Natasha Cheer, uma stripper que dança, tira a roupa e realiza desejos dos clientes. Mas faz isso a distância: em casa, com a webcam.

O cliente compra créditos usando cartão ou sistemas de pagamento on-line e vê na tela a quanto tempo de show ainda tem direito –se a garota não lhe agradar, ele troca. O minuto custa R$ 2,40.

A mãe e a irmã de Priscilla também dedicam algumas horas por dia ao site. "Eu pareço a minha mãe, então tem gente que reconhece e pergunta se dá para a gente fazer show juntas, mas não dá. Tem que ter respeito."

A stripper, que mora em São Paulo, diz ganhar cerca de R$ 3.000 por mês com os shows. Uma atriz da Brasileirinhas, uma das principais produtoras de filmes pornôs, recebe em torno disso por uma semana de trabalho.

Pelos rumos do entretenimento adulto, é possível que, no futuro, a paulista tenha mais campo de trabalho que as estrelas das telas. Para fugir da pirataria e atender à demanda dos clientes por interatividade, produtoras estão migrando para o setor de câmeras ao vivo, em geral com anônimas como Priscilla.

A tendência já é forte em mercados como o dos EUA. Sean Phillips, diretor de marketing do Sexyjobs.com (site de empregos do setor), diz que hoje 75% das vagas são para strippers virtuais. Ele aponta demanda por garotas "bem treinadas", já que a competição por clientes e a pressão para fazê-los ficar o maior tempo possível na sala, e gastar mais, são enormes.

"As pessoas acham que as mais bonitas são as mais bem-sucedidas, mas nem sempre é assim. Elas precisam atiçar, dizer coisas que os clientes querem ouvir. É um trabalho difícil."

No Brasil, shows pela webcam não são novidade, mas antes era comum as mulheres combinarem o serviço por e-mail e se apresentarem em softwares como o MSN.

Hoje o mercado é mais profissional. "As meninas passavam nome e dados bancários para o cliente, e a pessoa que depositava não tinha segurança de que ela ia fazer o show", diz Fabio Moraes, presidente da CHT Tecnologia, dona do portal CameraHot.

A empresa fica com 35% do que é pago às modelos.

Henrique Meneghelli trabalha com produção e licenciamento de conteúdo erótico há dez anos (ele cria portais com filmes de travestis para o mercado americano).

Com a crise de 2008, que abalou os EUA, e o avanço de sites que oferecem filmes de graça, ele decidiu diversificar as receitas e criou o Câmera Privê em 2013. "Fomos para o 'streaming' porque ele tem uma barreira muito forte contra a pirataria. Você não consegue piratear o contato entre duas pessoas", afirma.

Hoje, o site tem cerca de 4.000 modelos cadastrados (entre homens e mulheres) e em torno de 150 ficam on-line ao mesmo tempo. A maioria, diz, são "meninas que não trabalham, ficam mais tempo em casa e encaram aquilo como um emprego".

A empresa fica com metade do que é pago às garotas.

Clayton Nunes, presidente-executivo da Brasileirinhas, diz que esse tipo de site está ganhando força por causa da interatividade. Ele lançou um site do tipo, mas permite aos internautas conversar com atrizes pornôs e acompanhar os bastidores, vendo as artistas comendo e dormindo, por exemplo.

A tecnologia também mudou a estética dos filmes profissionais, com as superproduções deixadas de lado e as produções com jeito de vídeo caseiro ganhando força.

Mudou também o volume de produção: o estúdio, que chegou a lançar nove filmes por mês em 2007, fez apenas 19 no ano passado inteiro.

"O faturamento caiu bastante, porém os custos também. A margem de lucro continua a mesma", afirma.

Priscilla, que já trabalhou como vendedora de loja, afirma que não vai abandonar as câmeras depois de se formar em fisioterapia e conseguir trabalho nessa área. "É um hobby. Eu gosto."


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