Folha de S. Paulo


Desperdício consome 10% da energia elétrica no país, diz associação

De toda a energia consumida no Brasil durante 2014, mais de 10% se perderam à toa, mostra levantamento da Abesco, a associação que reúne empresas de serviços de conservação do recurso.

Essa conta, estima a entidade, bate em R$ 12,64 bilhões, dos quais metade corresponde a perdas geradas por consumidores residenciais e o restante se divide entre indústria, comércio, serviços e órgãos públicos.

Em parte, as perdas se devem ao fato de que, enquanto o consumo elétrico crescia nos últimos anos com o avanço da economia e mudava os hábitos domésticos, o brasileiro criava novas necessidades e desaprendia a poupar.

Editoria de Arte/Folhapress

Por isso, o racionamento que persegue os consumidores hoje chega em um cenário muito diferente daquele que os acometeu há 15 anos. O corte, desta vez, deve ser mais doloroso, segundo especialistas. E o consumidor residencial, que tem "mais gordura" para reduzir, deve ser o foco da economia.

Se, no racionamento de 2001, muitas residências tinham a opção de desligar o freezer, o vilão da vez, e substituir as velhas lâmpadas incandescentes pela tecnologia dos modelos fluorescentes, hoje as saídas são outras.

Quando o governo divulgou a MP 579, reduzindo o valor das tarifas, o consumo residencial saltou 5%.

"Teve o aumento da renda, que levou as pessoas a comprar mais eletrodomésticos, TVs maiores, frigobar, ar-condicionado. Vai precisar desligar para atingir a meta. Vai ter comprometimento da qualidade de vida alcançada", diz Ricardo Savoia, diretor da consultoria Thymos.

Das 16 maiores economias, o Brasil é o penúltimo no ranking de eficiência energética do American Council for an Energy-Efficient Economy, entidade internacional que estuda o tema.

INDÚSTRIA

Já para a indústria, Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora Comerc, ressalva que a margem de corte é menor em setores eletrointensivos, como o químico e o de alumínio. Como têm na energia uma parcela alta de seus custos, eles já investiram contra o desperdício.

Por outro lado, quem ainda não adotou projetos de eficiência mais complexos –como a transformação de estrutura para receber iluminação natural, instalação de geradores ou troca de maquinário– pode encontrar gargalos de financiamento e prazo.

"No passado havia gordura, até porque o preço da energia era baixo e subsidiado. Havia menor preocupação. Hoje, boa parte do consumo industrial já está no mercado livre e vem caindo desde 2012, quando o preço da energia começou a subir."

Vlavianos lembra que a eficácia do racionamento anterior foi maior do que se poderia esperar para um atual.

Margem, porém, existe. Rodrigo Aguiar, presidente da Abesco, aponta ineficiência em sistemas de iluminação pública e no condicionamento de ar de hotéis, shoppings e comércio, além dos equipamentos obsoletos em indústrias de menor porte.

"De todo o consumo industrial, 60% estão em motores, e 20% deles têm mais de 25 anos –ou seja, consomem mais de 40% de energia que o motor de alto rendimento novo. Afeta a produtividade e a competitividade no país."

Ananda Soares, da Safira, empresa especializada em energia, lista exemplos de desperdício como motores rodando sem necessidade e tubulações danificadas que agravam as perdas. Ainda há empresas que usam lâmpadas vapor metálico, um modelo dispendioso que já poderia ter sido trocado por LED.

Ao consumidor residencial, diz Soares, resta evitar dormir com a TV ligada, reduzir o ar-condicionado, procurar ventilação e iluminação natural, limpar filtros de máquinas de lavar e usar lâmpadas fluorescentes ou LED.

O Ministério de Minas e Energia diz que o país adota programas de eficiência.

"O Plano Nacional de Energia estabelece como meta que 10% do consumo projetado para o horizonte de 2030 seja suprido com medidas de eficiência energética", informa o órgão, que cita ainda iniciativas como o selo Procel e o plano brasileiro de etiquetagem, aplicado a fabricantes de equipamentos.


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