Folha de S. Paulo


Empresas não têm plano B para racionamento de água e energia

As empresas de São Paulo e Rio de Janeiro, Estados responsáveis por mais de 40% da economia do país, se preparam para um ano de produção reduzida e custos elevados diante da dupla crise de abastecimento à espreita.

Empresários e economistas antecipam prejuízos caso o cenário de falta de água e energia se concretize. Para a maior parte das companhias, não há "plano B" suficiente.

Lalo de Almeida/Folhapress
Operário trabalha na Opersan, em Jandira, empresa que trata de resíduos líquidos industrias e prospera na crise
Operário trabalha na Opersan, em Jandira, empresa que trata de resíduos líquidos industrias e prospera na crise

"A água é bomba estourada, o problema já existe. Há uma chance enorme de a crise da energia chegar. A mistura das duas cria um clima de muita intranquilidade", diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Para analistas, a economia será gravemente impactada se o racionamento vier –seja ele qual for. O banco Credit Suisse calcula que a restrição de energia tire pelo menos um ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto) –uma queda de 0,5% viraria uma recessão de 1,5%.

A conta prevê corte de 10% da energia por um ano. Em 2001, o governo impôs redução de 20% por sete meses.

A Gradual Investimentos estima que o racionamento de água em São Paulo tire outro ponto do PIB, com o aumento de custos e a possível paralisação de atividades.

Os sinais de que uma dupla crise se avizinha vêm do próprio governo.

Nos últimos dias, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, admitiu que o país pode passar por racionamento de energia, a agência responsável pela gestão de recursos hídricos avisou que poderá reduzir a captação de indústrias em São Paulo e o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, afirmou que serão as empresas as primeiras penalizadas caso falte água no Estado.

A indústria química Rhodia, que possui cinco fábricas em São Paulo, teme os efeitos da falta de chuvas. A empresa investiu em equipamentos para aumentar o nível de reúso de água em sua planta em Paulínia, que produz matéria-prima para outras unidades do grupo.

Lá, a água do rio é usada para resfriar o maquinário. Sem fluxo, não há como operar. Apesar do investimento, a empresa não está imune à crise caso ela seja drástica.

"Se ficarmos um mês sem captar do rio, será impossível administrar com recursos internos. Teremos de usar outros artifícios, como reduzir o ritmo de produção", afirma Francisco Ferraroli, presidente da Rhodia Fibras.

A companhia, que pertence à multinacional belga Solvay, já alertou às filiais da Alemanha e da Espanha que, caso haja interrupções no fornecimento de água, será preciso importar insumos. Se o racionamento de energia vier, não há alternativa senão parar. "Nossa geração a gás não é suficiente. A preocupação é grande", diz Ferraroli.

Editoria de arte/Folhapress

O setor siderúrgico, intensivo em água e energia, está em estado de alerta. A CSA, no Rio, teve de investir num novo jogo de bombas e tubos para aumentar a captação de água do rio Guandu, que abastece a usina.

Com nível abaixo do normal, o rio tem permitido que a água do mar invada seu leito. Hoje, a empresa tem uma janela de somente oito horas por dia para captar o máximo que conseguir de água doce.

A empresa terá de investir pelo menos R$ 15 milhões para buscar água três quilômetros rio acima, num ponto que a água salina não chega.

Metade das empresas do Estado que responderam à pesquisa da Firjan (Federação das Indústria do Rio de Janeiro) afirmam que já tiveram aumento de custos pelo problema de abastecimento.

INSUMO BÁSICO

A pressão também vem do consumo elétrico. O preço no mercado livre de energia em janeiro é o maior desde 2001, ano do racionamento. E a previsão do Banco Central é que as tarifas sejam reajustadas em 28% ao longo do ano.

Indústrias como a de alumínio, em que a energia elétrica é matéria-prima, já sofrem com o preço alto e avaliam que o efeito de um racionamento será devastador.

A redução na produção será, no melhor dos cenários, igual ao corte imposto pelo governo, segundo o setor. "Não tem para onde correr. É desanimador", afirma Milton Rego, presidente da Abal, que representa o setor.

Entre o fabricantes de produtos eletrônicos, a busca por geradores cresce. "Mas não é que você vai por o gerador e passar como se nada tivesse acontecido", afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) Humberto Barbato.

"Neste ano, infelizmente, vamos ter mais problemas para solucionar do que negócios para fazer."


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