Folha de S. Paulo


Pacote europeu pode reduzir ação do BC no Brasil

O pacote de estímulo europeu, que impulsionou Bolsas e moedas pelo mundo, também aumentou a chance de uma valorização do real.

Isso pode levar o Banco Central a estudar uma redução em suas intervenções diárias no câmbio. É o que defendem assessores presidenciais, preocupados com o impacto das medidas do BCE sobre as exportações.

O temor é que a injeção de recursos na Europa aumente a entrada de moeda estrangeira no Brasil, valorizando o real e tirando competitividade de produtos brasileiros no exterior. Quando os EUA tomaram a mesma medida, houve forte procura dos investidores por aplicação em emergentes como o Brasil.

No ano passado, a balança comercial fechou com déficit de US$ 3,9 bilhões, o primeiro desde 2000. Em 2015, já acumula resultado negativo de US$ 1,462 bilhão.

Segundo auxiliares da presidente Dilma, o BC poderia, neste momento, deixar de rolar integralmente, como tem feito hoje, os títulos equivalentes à venda de dólar no futuro que vencem mensalmente –cerca de US$ 10 bilhões.

Uma ala do governo ligada à indústria defende que o BC poderia inclusive encerrar seu programa de venda diária desses contratos, chamados de swap cambial. Esse programa foi renovado até 31 de março e prevê a venda diária de US$ 100 milhões no mercado de câmbio.

A equipe da presidente Dilma defende a redução das intervenções porque, além do pacote europeu, o real também pode ter tendência de valorização com os juros mais elevados no Brasil, que torna a remuneração de investimentos no país mais atraente ao investidor estrangeiro.

Esse foi outro motivo da queda do dólar nesta quinta, em reação à decisão do Banco Central na véspera de subir a taxa de juros Selic de 11,75% para 12,25% ao ano.

O dólar à vista (referência para o mercado financeiro) fechou o dia com queda de 1,23%, a R$ 2,574.

CETICISMO

A visão do governo, no entanto, esbarra no ceticismo de parte do mercado com o Brasil. Nesta quinta, a Bolsa chegou a subir 2,15% e a superar 50 mil pontos, mas terminou o dia em alta de 0,44%.

"A Bolsa brasileira teve um dos piores desempenhos. Há desconfiança com o Brasil", disse Daniel Cunha, da XP Securities. Cunha se referia a dúvidas sobre a reação política aos ajustes promovidos pela nova equipe econômica, além do escândalo da Petrobras e, agora, o perigo de racionamento de energia.

"Não vejo o pacote europeu como positivo para emergentes e produtores de commodities, caso do Brasil", disse Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentagono Asset.

Colaboraram TONI SCIARRETTA, RENATA AGOSTINI, ANDERSON FIGO, de São Paulo

Editoria de Arte/Folhapress

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