Folha de S. Paulo


Enquanto preços recuam no resto do mundo, inflação sobe no Brasil

O Brasil está na contramão de uma tendência global de baixa da inflação.

Segundo levantamento feito pela Folha em 25 economias que adotam o regime de metas de inflação –o mesmo do Brasil–, metade está sofrendo neste momento com uma inflação baixa demais.

Doze países, entre os quais economias europeias, Coreia do Sul e Guatemala, estão com a inflação abaixo do objetivo traçado pelos governos.

Editoria de arte/ Folhatress

A onda mundial de desinflação está sendo provocada pela queda do preço do petróleo e pelo menor crescimento econômico global, o que vem derrubando as cotações de matérias-primas no exterior.

Em 2014, o preço do barril de petróleo caiu de US$ 105 para US$ 57 e o do minério de ferro recuou 50%.

O movimento excessivo de baixa preocupa governantes, pois indica uma perda de valor dos ativos e desestimula o consumo. Dos 25 países analisados pela Folha, quatro estão em deflação.

No Brasil, porém, a pressão da inflação é para cima. Mesmo com alguma contribuição dessa onda global, a inflação doméstica está em alta devido a aumentos de preços que estavam represados, como tarifas de transporte e de energia elétrica. Além disso, a crise da Petrobras não permite prever um recuo da gasolina no curto prazo.

A economista Mônica de Bolle, sócia da consultoria Galanto e pesquisadora do instituto americano Wilson Center, observa que, com isso, o Brasil está elevando as taxas de juros em um momento em que o mundo tem taxas nulas ou em queda.

"O Brasil está com uma inflação alta mesmo com um crescimento baixo", afirma.

O país é uma das seis economias que estão com a inflação dentro do intervalo de tolerância estipulado pelos governantes –registrou 6,4% de inflação ante um limite de 6,5%. Mônica ressalta, contudo, que o alvo do Brasil é mais alto. No Peru, o teto é 3%, e, no México, 4% ao ano.

Margarida Gutierrez, economista da Coppead/UFRJ, prevê que a inflação deve seguir sob pressão em 2015 no Brasil, em razão do desrepresamento dos preços administrados e de uma possível elevação da cotação do dólar.

"A alta do dólar pode neutralizar o efeito [benéfico] na inflação da queda das commodities", afirma.


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