Folha de S. Paulo


Brasileiro cria app que indica se alguém fuma maconha na região

Apertar, acender e dar um "tapinha" na tela do smartphone. Um empreendedor brasileiro crê que as pessoas gostariam de avisar, anonimamente, que estão fumando maconha e de ver se há alguém fazendo o mesmo nas redondezas.

João Paulo Costa, 30, é o criador do aplicativo Who is Happy, uma espécie de "Foursquare para maconha", em que o usuário faz "check-in" no local em que está quando acende o cigarro. Foursquare é um app em que originalmente o usuário avisava aos amigos que estava em determinado local.

O sistema mostra gráficos da "felicidade" da pessoa, com o histórico e a frequência de uso da maconha. "É entretenimento, algo engraçado", afirma o publicitário.

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Tela do aplicativo Who is Happy, desenvolvido pelo brasileiro João Paulo Costa
Tela do aplicativo Who is Happy, desenvolvido pelo publicitário João Paulo Costa

Ele afirma que um dos planos é "gamificar" sua ferramenta, dando selos aos locais de maior consumo, por exemplo –essas insígnias, ou "badges", ficaram famosas no aplicativo americano.

Apesar de ser brasileiro, o empreendedor está mirando nos Estados Unidos, onde ferramentas tecnológicas ligadas ao mercado da maconha estão recebendo atenção de investidores, em razão da gradual legalização da droga. Os Estados do Colorado e de Washington já permitem o uso recreativo e serão seguidos por Oregon e Alasca em 2016 –27 Estados e o distrito de Colúmbia ou aprovaram o uso medicinal ou descriminalizaram a posse do produto.

Fundos colocaram US$ 90 milhões em 29 empresas desse setor no ano passado, de acordo com a base de dados Crunch Base.

A MassRoots, uma rede social para adeptos da maconha que tem mais de 215 mil usuários recebeu US$ 1,1 milhão de investimento.

Nesta quinta-feira (8), foi confirmado que o fundo Founders Fund, aberto por Peter Thiel, um dos criadores do PayPal e um dos primeiros investidores do Facebook, participou de uma rodada de investimentos de US$ 75 milhões na Privateer Holdings, dona de empresas relacionadas ao mercado de maconha, incluindo o Leafly, um aplicativo de recomendação de estabelecimentos que vendem o produto.

Por causa da aparente janela de oportunidade e da crença de que "não existem bons projetos para o mercado de cannabis", Costa diz que vai daqui a dois meses ao Vale do Silício, região dos Estados Unidos que concentra negócios de tecnologia, para conversar com possíveis investidores.

"A gente não pensa em ficar no Brasil, de maneira alguma", diz o empresário. "Por aqui é mais complicado, por causa das pessoas. Quando estava na Inglaterra e apresentava a ideia, o pessoal ficava maluco, adorava, mas aqui as pessoas têm receio."

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O publicitário João Paulo Costa, criador do aplicativo Who is Happy
O publicitário João Paulo Costa, criador do aplicativo Who is Happy

O brasileiro já teve uma experiência, malsucedida, no exterior. Em 2013, criou um aplicativo chamado Pergunter, que permitia que usuários fizessem perguntas por meio de fotos e vídeos (algo como "que aranha é essa?). O sistema participou do processo de aceleração de negócios da aceleradora dinamarquesa StartupBootcamp.

Entretanto, o projeto não deu certo porque Biz Stone, um dos fundadores do Twitter, criou um sistema praticamente igual, chamado Jelly. Com isso, não conseguiu atrair investimento, diz o brasileiro, que já foi dono de selos de música e da TV Boteco, que criava DVDs a serem exibidos em bares.

Ele não sabe exatamente como vai gerar receita com a ferramenta. Por enquanto, o foco é conseguir usuários.

Costa diz que é entusiasta da maconha porque sofre de epilepsia e derivados da droga têm sido usados, inclusive no Brasil, para tratamento da doença. Ele afirma que é "complexo" responder se fuma maconha, mas afirma: "Já fumei, em países onde era legalizado".

É LEGAL?

O advogado Cid Vieira de Souza Filho, presidente da Comissão de Estudos sobre Educação e Prevenção de Drogas e Afins da OAB-SP, diz que o aplicativo não faz apologia ao uso de drogas, o que é crime, em razão de fazer uma brincadeira com o tema. "É uma brincadeira, ninguém está incentivando o uso. É para saber se alguém está fumando perto", afirma.


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