Folha de S. Paulo


Após atrasos, empresas de entrega dos EUA se previnem para festas

O passo Donner, um trecho sempre gélido de estrada que atravessa as montanhas da Sierra Nevada, fica a 3,2 mil quilômetros da sede mundial da FedEx em Memphis.

Mas com a temporada de entregas para as festas chegando ao seu pico, os controladores de carga da empresa estão de olho nas condições do tempo no passo: qualquer problema poderia torná-lo intransponível para os caminhões da companhia, e fecharia uma rota crucial que conduz de e para a Califórnia.

Este ano, a FedEx diz ter reforçado seu planejamento para emergências, depois que as companhias de entregas norte-americanas foram severamente criticadas pelos atrasos nas entregas na temporada de festas passada. E os planos de contingência entraram em ação este mês, quando fortes chuvas causaram inundações em certas áreas da Califórnia.

Agindo com base em atualizações fornecidas por sua equipe meteorológica de 15 pessoas, Paul Tronsor, que dirige o Controle Mundial de Operações da FedEx, ordenou que 10 caminhões de entrega que operavam na área abandonassem o trabalho. Os controladores da empresa em lugar disso transferiram dois aviões de carga a Oakland, Califórnia, para transportar pacotes ao norte do Estado. Tronsor diz que essa mudança minimizou os atrasos.

"É como um jogo de xadrez, no qual as peças sejam aviões e caminhões", disse Tronsor no centro de controle da FedEx, chamado de "sala de guerra", enquanto apontava com um gesto largo para um grande mapa digital repleto de emblemas de aviões e ícones que mostram condições meteorológicas. "O poder está em nossa capacidade de realizar reajustes em tempo real, de minuto a minuto".

A FedEx, bem como a concorrente United Parcel Service (UPS), de maior porte, está se preparando para evitar o caos do ano passado, quando um pico tardio de embarques e o mau tempo sobrecarregaram as transportadoras e deixaram muitas casas desprovidas de presentes nas datas previstas. (Alguns analistas também questionaram a possibilidade de que as empresas de entregas e as grandes companhias de varejo tenham subestimado o uso crescente de compras online pelos consumidores para presentes de última hora.)

As duas companhias contrataram pessoal adicional para o final do ano. A UPS anunciou que estava contratando até 95 mil trabalhadores sazonais, mais que o dobro do número empregado no ano passado. A FedEx disse ter contratado 50 mil trabalhadores extras para as festas.

Mas elas ainda assim enfrentam um desafio. Graças à disparada do comércio eletrônico, este ano terão de entregar o maior número de pacotes que já transportaram.

A FedEx informa que está se preparando para cuidar de 290 milhões de embarques no período entre a Black Friday e a véspera do Natal, quase 9% a mais do que no ano passado, enquanto a UPS antecipa entregar 585 milhões de pacotes só em dezembro, 11% a mais do que no ano passado.

E mais varejistas, ávidos por extrair da temporada de festas o maior faturamento possível, estão adiantando mais e mais as datas finais para pedidos com entrega antes do Natal. A Pottery Barn, por exemplo, transferiu a data limite para pedidos com entrega até o Natal para o dia 22, segunda-feira, dois dias mais tarde que a data de corte do ano passado. E isso a despeito dos atrasos nas entregas de presentes no ano passado.

Outras companhias de varejo, como a Target e a Wal-Mart, estão tentando aliviar a pressão de entrega convencendo mais pessoas a fazer pedidos online e retirar as encomendas em suas lojas. Este ano, a Target também está oferecendo um serviço de "entrega da loja", transformando as salas de estoque de 136 unidades de sua rede em centros locais de distribuição que segundo a companhia permitirão entrega mais rápida do que a do site Target.com.

Mas em termos gerais, "os varejistas todos estão tentando capturar vendas adicionais" com ofertas de último minuto, disse Satish Jindel, presidente da ShipMatrix, que rastreia e analisa entregas do varejo. "O problema é que alguns varejistas fazem promessas de entrega mas não levam em conta o desgaste que isso causa às transportadoras".

O serviço expresso da FedEx aceita pedidos para entrega antes do Natal até o dia 23 de dezembro. O pesado investimento da companhia fez do Aeroporto Internacional de Memphis, a poucos minutos de distância de
Graceland, a casa de Elvis Presley, o maior polo mundial de transporte aéreo, nas operações noturnas.

A cada noite, quando os últimos passageiros deixam os terminais do aeroporto, os jatos da FedEx começam a rugir pelas pistas. Das cerca de 22h30min até o raiar do dia, cerca de 160 aviões decolam e pousam, transportando 1,8 milhão de pacotes de e para o polo central de carga da companhia, com o uso de 67 quilômetros de correias transportadoras.

A Amazon é tanto amiga quanto inimiga da FedEx e da UPS, e ela vem progressivamente alterando a maneira pela qual os consumidores fazem compras na temporada de festas. A Amazon vem investindo pesadamente em seus armazéns, e na metade do ano que vem revelará um exército de robôs de formato achatado chamados Kiva, para preparar produtos para entrega.

A companhia de varejo online, a maior do mundo, está construindo centros de triagem próprios para acelerar as entregas, e também introduziu um serviço de entrega em uma hora em Nova York, decisões que podem fazer dela concorrente da FedEx e UPS. Mas por enquanto ela continua a ser grande cliente das duas companhias e do correio dos Estados Unidos, para suas entregas convencionais. No ano passado, a Amazon chegou a acordo com os correios para oferecer entregas dominicais durante toda a temporada de festas.

Nos correios, a solução foi simplesmente trabalhar mais. Pela primeira vez, o serviço está entregando pacotes sete dias por semana nas grandes cidades do país, da metade de novembro até o Natal. A UPS também antecipa crescimento da ordem dos dois dígitos neste final de ano: mais de 470 milhões de pacotes entregues entre o dia de Ação de graças e a véspera do Natal, 12% a mais do que no ano passado.

E pela primeira vez, o correio enviou notificações a todos os domicílios dos Estados Unidos para informar sobre a data limite para entregas natalinas. Para o serviço Priority Mail Express, a data é 23 de dezembro.
"Tempestades, furacões, estaremos lá tentando fazer com que as pessoas recebam suas entregas", disse Katina Fields, porta-voz do correio norte-americano. "Mas é preciso respeitar as datas de envio, ou os seus seres amados não receberão os presentes até o Natal".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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