Folha de S. Paulo


Bem-estar dos animais entra na mira de gigantes da alimentação

Numa gaiola com espaço menor que um papel formato A4 ficam as galinhas poedeiras. Também confinadas, porcas, cercadas de grades para economizar espaço e não esmagar os leitões, são presas para inseminação, gestação e amamentação.

Mas esses animais estão perto de ter dias melhores em algumas granjas do país.

Gigantes da indústria estão adotando medidas que visam garantir uma vida melhor aos bichos -uma preocupação antes restrita a ONGs e de poucos consumidores.

A Unilever, detentora das marcas Hellman's e Arisco, por exemplo, se comprometeu a financiar e fornecer expertise para pesquisas de métodos alternativos para evitar a eliminação de pintinhos machos, que são mortos logo no primeiro dia de vida porque não põem ovos.

Uma saída seria determinar o sexo antes do nascimento, e produzir só fêmeas.

"Há uma pressão maior do consumidor, que quer comprar o que é ético e correto", diz Paola Rueda, supervisora de bem-estar animal da World Animal Protection.

A entidade, uma das mais importantes do mundo, e a BRF, das marcas Sadia e Perdigão, firmaram no final de novembro um carta de intenção em que a empresa se compromete a adotar práticas visando o bem-estar animal.

Entre elas está a adoção do sistema de gestação coletiva de suínos, num prazo de 12 anos. "Na Europa, o pilar da sustentabilidade inclui o bem-estar animal, que agora passa a ser uma exigência também do brasileiro", diz Marcos Jank, diretor de assuntos corporativos da BRF.

Editoria de Arte/Folhapress

A Nestlé também assinou um acordo com a ONG prevendo normas mais rigorosas de proteção aos animais nas propriedades que fornecem matéria-prima à indústria.

Há, por exemplo, novos requisitos de espaço para os locais onde são criados suínos e vacas, para que eles não fiquem amontoados e que possam expressar seus comportamentos naturais.

Na Arcos Dorados, que gerencia franquias do McDonald's na América Latina e Caribe, todos os fornecedores de carne suína devem apresentar, até 2016, projetos para eliminar o uso de celas de gestação e utilizar o sistema de criadouros coletivos.

As empresas negam que os custos dessas medidas serão repassados ao consumidor.

PRIMEIRO PASSO

As indústrias estão dando o primeiro passo em direção ao conceito de bem-estar animal, mas estão longe do que é considerado ideal.

No Brasil, há apenas um certificado que atesta a produção de animais livre de qualquer tipo de sofrimento: o Certified Humane. E só uma empresa detém esse título, a Korin, localizada em Ipeúna (SP). Luiz Demattê, diretor, diz que todas as galinhas poedeiras são criadas no chão, fora de gaiolas. "Nossa base é a agricultura natural."

Em 1995, quando a empresa foi criada, eram abatidos 12 mil frangos por mês. Hoje são 450 mil abates, com a expectativa de dobrar a produção em dois anos.

Para Lizie Pereira Buss, da comissão técnica de bem-estar animal do Ministério da Agricultura, é possível aliar produção em larga escala a práticas que visam o bem-estar dos animais.


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