Folha de S. Paulo


Ex-executivos do BVA processam dono do grupo Caoa e Banco Central

Acusados de desvios de recursos, fraudes contábeis e gestão temerária, o ex-presidente Ivo Lodo e ex-diretores do banco BVA, que está em processo de falência, partiram para o ataque.

Nesta quinta (18), entraram na Justiça com uma ação em que acusam o Banco Central e o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, dono do grupo Caoa, por supostos prejuízos que teriam levado à falência do banco.

Os executivos pedem também uma indenização, estimada em cerca de R$ 3 bilhões pelo advogado Cristiano Martins.

De acordo com a ação, Oliveira Andrade, que era ao mesmo tempo sócio e principal cliente do BVA, teria agido para desvalorizar o banco, que ele tentava comprar.

Segundo essa versão, o empresário sacou cerca R$ 1 bilhão de sua conta no banco ao longo de 2012, quando a instituição já enfrentava problemas de caixa.

As retiradas descapitalizaram ainda mais o BVA, provocaram apreensão no mercado e, segundo a ação, levaram outros clientes a sacar.

"Como sócio, Oliveira tinha dever de lealdade. Ele sabia da fragilidade em que a instituição ficaria após as retiradas", diz o advogado.

O empresário não quis comentar.

BANCO CENTRAL

Com um rombo de R$ 1,4 bilhão em outubro de 2012, o BVA sofreu intervenção do Banco Central. A partir daquele momento, dizem os ex-executivos, a tutela do BC piorou ainda mais a situação do banco levando à sua liquidação, em junho de 2013, e ao pedido de falência, decretada pela Justiça de São Paulo em setembro deste ano.

Segundo a ação, a demissão de 170 funcionários prejudicou a cobrança das dívidas a receber.

Os executivos acusam o BC, na figura do interventor, de também não executar garantias de vários empréstimos, somavam R$ 2 bilhões.

Com isso, pelas regras do sistema financeiro, mais da metade da carteira de crédito foi dada como irrecuperável o que, pelas regras do mercado financeiro, obriga a instituição a pedir falência.

Além disso, o interventor teria liberado indevidamente garantias de devedores e contratado escritórios de advocacia por valores elevados.

Tudo somado, o rombo do BVA aumentou de R$ 1,4 bilhão, no dia da intervenção, para R$ 5 bilhões, quando foi decretada a falência.

O Banco Central nega as acusações dos ex-diretores do BVA e disse que irá defender sua posição na Justiça.

Os ex-executivos estão tentando reverter a decisão numa outra ação, que segue desde setembro deste ano.

Antes da falência, eles fizeram várias tentativas de negociar o banco, que esteve a ponto de ser vendido para o dono do grupo Caoa.

Sem sucesso, contrataram o banco BTG Pactual, advogados e auditores para montar uma operação que, se desse certo, também poderia resultar na venda do banco. Mas foram surpreendidos com a decretação da falência.

'SANHA INDENIZATÓRIA'

O Banco Central nega as acusações dos ex-diretores do BVA e disse que irá defender sua posição na Justiça.

"São improcedentes as alegações e o BC está pronto para resistir firmemente a essa investida, fruto da sanha indenizatória do particular [Ivo Lodo] que, após gerir de forma ruinosa os negócios da instituição, busca reparação de danos à custa do erário", disse o procurador-geral do Banco Central, Isaac Sidney Menezes Ferreira.

Nas investigações que levaram à liquidação e falência do BVA, os sócios e principais executivos do banco foram acusados do desvio de R$ 195,4 milhões entre 2009 a 2011, e banidos do mercado financeiro por até 20 anos. A pena máxima foi aplicada ao a Ivo Lodo, o ex-presidente e sócio da instituição.

O empresário Carlos Alberto Oliveira Andrade não quis comentar, porque não tem conhecimento dos termos da ação.


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