Folha de S. Paulo


Tensão global faz Banco Central renegar 'parcimônia' na alta de juros

A piora do cenário econômico internacional, que se reflete numa valorização maior do dólar, levou o Banco Central a abandonar o termo "parcimônia", numa indicação de que os juros podem voltar a subir 0,50 ponto percentual, mesma dose administrada na reunião do início de dezembro, quando a taxa Selic subiu para 11,75%.

O termo, usado no comunicado e na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), foi interpretado pelo mercado como sinal de um ciclo curto e menos intenso de alta dos juros.

Segundo a Folha apurou, a equipe do BC acha hoje que não deveria ter usado a palavra "parcimônia".

Em conversas reservadas, a equipe do presidente do BC, Alexandre Tombini, evita antecipar qual será sua decisão no início de 2015, mas enfatiza que "será feito tudo o que for necessário" para levar a inflação para o centro da meta no final de 2016, de 4,5%, evitando que ela supere o teto, de 6,5%, no próximo ano.

Ou seja, caso o cenário de instabilidade na economia mundial gere uma inflação ainda mais pressionada nos próximos meses, o Banco Central vai reagir e fazer o "que for preciso". O banco já contava com uma pressão maior sobre os preços no início de 2015, mas teme que ela seja mais intensa do que o previsto inicialmente.

Joedson Alves/Reuters
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante audiência da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante audiência no Senado

Agora, a equipe de Tombini avalia que seu comunicado deveria ter sido mais "seco" e que a inclusão da palavra "parcimônia" gerou ruídos no mercado –os analistas passaram a apostar que o BC poderia reduzir a alta para 0,25 ponto percentual.

A intenção, afirmam assessores, era reduzir a "excitação" que dominava o mercado naquele momento, apontando para uma alta de 0,75 ponto percentual em janeiro.

A avaliação atual é que este recado poderia ter sido dado nos discursos feitos após a reunião do Copom. O tom mais ameno sobre as ações de combate à inflação acabou decepcionando o mercado.

Um assessor lembra que, em suas últimas falas no Congresso e em reunião na Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o presidente Alexandre Tombini já não usou mais a expressão parcimônia para falar sobre o futuro.

Nesta quarta (17), em seu tradicional café de final de ano com jornalistas, fez o mesmo.

FATOS EM ANÁLISE

Até a próxima reunião do Copom, o governo vai avaliar a evolução do cenário mundial. Dois fatores podem contribuir para pressionar a política monetária brasileira: as sinalizações do banco central americano sobre a alta de suas taxas de juros (leia texto abaixo) e a possibilidade de mais países emergentes seguirem o exemplo da Rússia, que elevou sua taxa de 10,5% para 17%.

Do lado positivo, a nova equipe econômica vai lançar um pacote fiscal para reequilibrar as contas públicas. O Banco Central conta com uma política fiscal contracionista (menos gastos) para ajudá-lo no combate à inflação.


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