Folha de S. Paulo


Com intervenção do Banco Central russo, rublo tem alta de 17%

Depois de dois dias de quedas profundas, o rublo, a moeda russa, teve nesta quarta-feira (17) a maior alta em 16 anos, após medidas do governo e do banco central para aumentar a confiança no sistema financeiro do país.

O rublo se valorizou em 17%, alta que não era vista desde 1998 (ano da crise financeira russa). A moeda acumula queda de 3,2% nesta semana, a mais profunda entre as grandes economias emergentes, mas praticamente residual após as quedas de segunda e terça-feira: 9,6% e 8,6%, respectivamente.

Nos primeiros dois dias desta semana, o BC russo gastou US$ 4 bilhões das suas reservas (de mais de US$ 400 bilhões) para tentar conter o declínio do rublo, medida que foi insuficiente.

Com filas se formando em agências de bancos em diversas partes do país para trocar rublos por dólar ou euro, o BC anunciou um pacote de medidas para ajudar o setor.

Entre elas, estão injeção de liquidez, afrouxamento das exigências de capital pelos bancos e a possibilidade de recapitalizar instituições.

Editoria de Arte/Folhapress

"O governo e o banco central começaram a trabalhar com seriedade para cessar essa bacanal no mercado de câmbio", disse Andrei Belousov, assessor do presidente Vladimir Putin.

A recuperação do rublo também se traduziu em ações de bancos como as do Sberbank, o maior do país em financiamento, que subiram 12% nesta quarta.

Para Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, as medidas foram "um reconhecimento tácito das preocupações do banco central com o impacto da desvalorização no sistema bancário russo".

Segundo ele, porém, as ações não oferecem solução de longo prazo para o sistema financeiro. "A não ser que o rublo recupere todas as suas perdas, são, na melhor das hipóteses, um esparadrapo."

No ano, o rublo ainda acumula desvalorização de 45%, mais que o dobro da sofrida pelo peso argentino, a segunda moeda emergente que mais perdeu neste ano –o país vizinho vem sendo afetado pelos problemas econômicos internos e pela dificuldade das negociações com credores externos.

No início desta semana, o BC da Rússia elevou a taxa básica de juros de 10,5% para 17%, apenas cinco dias depois de ter aumentado a taxa e horas após o rublo, a moeda local, sofrer a pior queda desde 1998.

"A decisão foi motivada pela necessidade de limitar os riscos de desvalorização e inflação, que aumentaram recentemente significativamente", disse o banco central, em comunicado na segunda (15).

Ainda nesta quarta, o Ministério das Finanças russo anunciou que vai vender US$ 7 bilhões em reservas em dólar, e o governo disse que vai aumentar o controle sobre as operações em moeda estrangeira das companhias estatais do país.

As ações do governo vêm um dia antes da coletiva de imprensa anual feita por Putin, quando se espera que ele vai falar sobre como vai lidar com o colapso do rublo.

Um porta-voz do presidente disse que este é o "momento de arregaçar as mangas" e que várias medidas serão anunciadas nos próximos dias –porém não deu detalhes de quais seriam.

IMPACTO DO PETRÓLEO

O colapso do rublo segue em grande parte a queda do preço do barril de petróleo, que nos últimos meses caiu mais de 40%.

O petróleo é o principal produto de exportação da Rússia, responsável por mais da metade das vendas externas do país, que tem as portas fechadas em boa parte dos países desenvolvido devido às sanções pelo conflito na Ucrânia.


Endereço da página: