Folha de S. Paulo


Petrobras perde 6,6% e derruba Bolsa, que tem pior semana desde 2012

A forte aversão ao risco no exterior agravada pela derrocada das ações da Petrobras levou o principal índice da Bolsa brasileira a fechar em queda de mais de 3% nesta sexta-feira (12), na sua pior semana desde maio de 2012.

O desempenho também refletiu a alta do dólar, que chegou a operar acima de R$ 2,67 no dia, mas amenizou o avanço durante a tarde, diante de atuações do Banco Central. Mesmo assim, a moeda americana renovou seu maior valor em mais de nove anos.

O Ibovespa perdeu 3,73% no dia, para 48.001 pontos –menor nível desde 26 de março, quando atingiu 47.965 pontos. O giro financeiro foi de R$ 6,541 bilhões. Na semana, o índice recuou 7,68%. É o pior desempenho semanal desde o período entre 14 e 18 de maio de 2012. Apenas em dezembro, a desvalorização chega a 12,28%.

Vanderlei Almeida/AFP
Sede da Petrobras no Rio de Janeiro; ações ordinárias fecharam abaixo de R$ 10 nesta sexta
Sede da Petrobras no Rio de Janeiro; ações ordinárias fecharam abaixo de R$ 10 nesta sexta-feira

Boa parte da perda é refletida nas ações da Petrobras, que caíram pelo quinto dia nesta sexta após o jornal "Valor Econômico" revelar que uma gerente da companhia advertiu a atual diretoria de uma série de irregularidades em contratos da empresa muito antes do início da Operação Lava Jato. Partidos de oposição se manifestaram a favor da demissão da presidente da empresa, Graça Foster.

As ações preferenciais da Petrobras, sem direito a voto, fecharam o dia valendo R$ 10,11 cada uma, após caírem 6,56%. É o menor preço dos papéis desde 11 de agosto de 2004, quando custavam R$ 10,09. Já os papéis ordinários da petroleira, com direito a voto, cederam 5,78%, para R$ 9,46 –mais baixa cotação desde os R$ 9,27 registrados em 8 de dezembro de 2003.

"Uma possível troca da diretoria toda da Petrobras daria um pouco mais de credibilidade à empresa, com certeza. Mas os problemas da companhia não seriam resolvidos só com isso", disse Filipe Machado, analista da Geral Investimentos. Os investidores aguardam pelo balanço não auditado da empresa previsto para esta noite.

"Sobre o balanço, não tem como acreditar em números não auditados, especialmente quando a empresa está no meio de uma crise de credibilidade", diz Julio Hegedus, economista-chefe da Lopes Filho. "Há muita influência política dentro da Petrobras. O caso denunciado pelo 'Valor' hoje apenas corroborou isso."

O economista defende que o rating da Petrobras está sob ameaça de ser rebaixado e que isso gera cautela sobre a nota de risco do país. "Geralmente, a nota da empresa espelha o rating do país: se ela cai, aumenta ainda mais a chance de corte na avaliação do Brasil, o que só vai piorar o cenário."

COMMODITIES

Para Machado, a Bolsa também foi afetada pelo menor número de estrangeiros no mercado de ações nacional, afugentados pela insistente desvalorização nos preços das commodities –em especial do petróleo, que renovou seu menor valor em cinco anos e meio nesta sexta. Dados ruins na China e na Europa motivaram a baixa das cotações.

"O volume dos contratos de índice futuro estão reduzindo, não dá para chamar de fuga de estrangeiros, mas pelo menos há uma redução na quantidade de negócios feitos por eles. O clima de aversão internacional dá fôlego à corrida para aplicações mais seguras."

A AIE (Agência Internacional de Energia) afirmou nesta sexta em relatório que os preços do petróleo devem ser ainda mais pressionados, após cortar sua perspectiva para o crescimento da demanda em 2015 e prever o aumento na oferta de países de fora da Opep.

Setores ligados às matérias-primas encabeçaram as perdas do Ibovespa no dia. Entre as siderúrgicas, perderam Gerdau (8,60%), CSN (-6,20%) e a ação preferencial da Usiminas (-6,29%). A Vale, cujas exportações vão, em sua maioria, para a China, viu seu papel preferencial cair 1,64%.

A perda do setor financeiro, segmento com maior peso dentro do índice, também empurrou o Ibovespa para baixo. O Itaú Unibanco cedeu 5,33%, enquanto o Banco do Brasil sofreu desvalorização de 6,89% e a ação preferencial do Bradesco mostrou baixa de 5,86%.

CÂMBIO

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou a sexta-feira em alta de 0,72% sobre o real, cotado em R$ 2,662 na venda. É a maior cotação desde os R$ 2,679 registrados em 31 de março de 2005. Na semana, houve valorização de 2,78% –a terceira semana consecutiva de avanço.

Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,11% no dia e 2,20% na semana, para R$ 2,651 –maior valor desde 1º de abril de 2005, quando valia R$ 2,66. A moeda americana chegou a subir até R$ 2,678 durante o dia, mas amenizou a alta durante a tarde, diante de novas atuações do Banco Central.

O BC aumentou nesta sexta suas atuações no câmbio. Além dos leilões de swap já programados (operações que equivalem a uma venda de dólares no mercado futuro), a autoridade também ofereceu US$ 2 bilhões em leilão de empréstimos de dólares das reservas internacionais. É o dobro do ofertado nas duas operações anteriores desse tipo realizadas neste mês.

Nesta sexta, o BC deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, por meio do leilão de 4.000 contratos de swap cambial, pelo total de US$ 197,9 milhões. A autoridade também promoveu um novo leilão para rolar os vencimentos de 10 mil contratos de swap previstos para 2 de janeiro de 2015, por US$ 490,3 milhões.


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