Folha de S. Paulo


Dólar sobe e fecha em R$ 2,64 com exterior e cautela com BC

Dados mostrando fortalecimento da economia americana voltaram a alimentar incerteza sobre um aumento antecipado dos juros nos Estados Unidos e, em conjunto com dúvidas em relação à continuidade do programa de atuações do Banco Central do Brasil no câmbio, pressionaram a cotação do dólar nesta quinta-feira (11).

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou em alta de 1,21% sobre o real, cotado em R$ 2,643 na venda. É a maior cotação desde 4 de abril de 2005, quando valia R$ 2,661. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 1,37%, para R$ 2,678 –cotação mais alta desde 1º de abril de 2005, quando estava em R$ 2,660. A moeda americana chegou a ser negociada acima de R$ 2,65 ao longo do dia.

Nos EUA, indicadores de vendas no varejo e pedidos de auxílio-desemprego mostraram dados melhores que o esperado pelo mercado. Os números geraram receio de que o Federal Reserve (banco central americano) possa abandonar sua promessa de manter os juros perto de zero "por mais um longo período de tempo". A autoridade terá reunião na próxima semana.

Atualmente os juros nos EUA estão em seu menor nível histórico, entre zero e 0,25% ao ano. Um aumento deixaria os títulos do Tesouro americano, que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco, mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes.

A avaliação de operadores é que a alta do juro nos EUA pode causar uma fuga de recursos dos emergentes, fazendo com que a menor oferta de dólares pressione a cotação da moeda americana para cima.

Editoria de arte/Folhapress

AGRAVANTE

"Quando há aversão [ao risco], os investidores correm para o dólar. É considerado um investimento menos arriscado. Por isso, a tendência continua sendo de valorização da moeda americana. O Brasil ainda tem um agravante, que são as dificuldades de fechar as contas públicas e as incertezas sobre o futuro do programa de atuações do BC no câmbio", disse Paulo Petrassi, sócio operador da Leme Investimentos.

Segundo Petrassi, as dúvidas em relação ao futuro das intervenções do Banco Central do Brasil no câmbio pressionam ainda mais o mercado. "Um terço das reservas do país já está sendo utilizado nos leilões de swap do BC [operações que equivalem a uma venda de dólares no mercado futuro]. Já chegou em um nível alto, por isso a tendência é que reduzam esse ritmo de leilões no futuro."

A ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) divulgada nesta quinta, afirmou Petrassi, já mostrou um cenário externo mais desafiador para o câmbio. Além disso, a percepção após discursos recentes do presidente do BC, Alexandre Tombini, é de que a autoridade vai permitir uma "desvalorização controlada" do real, segundo o operador da Leme.

Nesta quinta, o BC deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, por meio do leilão de 4.000 contratos de swap cambial, pelo total de US$ 197,9 milhões. A autoridade também promoveu um novo leilão para rolar os vencimentos de 10 mil contratos de swap previstos para 2 de janeiro de 2015, por US$ 489,8 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 45% do lote total com prazo para o segundo dia do mês que vem, que equivale a US$ 9,827 bilhões.

Após o fechamento do mercado, o BC anunciou que vai oferecer nesta sexta-feira (12) US$ 2 bilhões em leilão de empréstimos de dólares das reservas internacionais. É o dobro do ofertado nas duas operações anteriores realizadas neste mês.

Nesse caso, é uma operação extra, não programada. Esses leilões são feitos de acordo com a avaliação do BC sobre o mercado. O programa atual de intervenções do BC no câmbio já previa a possibilidade desse tipo de operação em momentos em que a instituição julgasse necessário.

BOLSA SOBE

No mercado de ações, o principal índice da Bolsa brasileira teve um dia instável. Após ter aberto em alta e virado para queda no fim da manhã, o Ibovespa se recuperou ao longo da tarde e fechou com valorização de 0,63%, para 49.861 pontos. A retomada se deu na esteira dos indicadores positivos nos EUA, que impulsionaram as Bolsas em Nova York. Foi o primeiro fechamento no azul em quatro dias.

O volume financeiro foi de R$ 6,429 bilhões –abaixo do volume médio diário de 2014, de R$ 7,196 bilhões, mas acima da média diária em dezembro, de R$ 5,736 bilhões, segundo dados da BM&FBovespa.

O ânimo nas Bolsas dos EUA motivou a retomada das ações da Petrobras e dos bancos na Bovespa. As ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras, que já acumulam perda de 11,75% apenas nesta semana, fecharam praticamente estáveis, com leve baixa de 0,09%, para R$ 10,82 cada uma –menor valor desde 16 de setembro de 2004, quando valiam R$ 10,78. Pela manhã, esses papéis chegaram a cair 4,71%.

A queda das ações da Petrobras acompanhou a baixa nos preços do petróleo no exterior e as incertezas em relação ao futuro da estatal, que está sendo alvo de ações judiciais por parte de detentores de ADRs (recibos que representam ações de uma empresa estrangeira na Bolsa de Nova York), além de estar envolvida em escândalos de corrupção e de não ter apresentado seu balanço auditado sobre o terceiro trimestre.

Os papéis ordinários (com direito a voto) da Petrobras caíram 0,69% nesta quinta, para R$ 10,04 –menor valor desde 28 de maio de 2004, quando valiam R$ 10,01. Entre os bancos, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, subiram Itaú Unibanco (+1,13%), Banco do Brasil (+4,26%) e a ação preferencial do Bradesco (+2,40%).

PAPÉIS

A alta do Ibovespa só não foi maior por causa da queda de 2,94% dos papéis preferenciais da Vale, para R$ 16,48, na esteira da desvalorização do minério de ferro no exterior.

As ações das operadoras TIM e Oi também caíram. As baixas foram de 2,34% e 2,56%, respectivamente. No último pregão, as ações da TIM subiram cerca de 11% com expectativa de que suas rivais brasileiras estariam preparando oferta conjunta de US$ 15 bilhões pela operadora. Nesta quinta, porém, a TIM disse desconhecer quaisquer acordos envolvendo a companhia e suas rivais.

Do outro lado da Bolsa, as ações da companhia aérea Gol ficaram entre as principais altas do Ibovespa, com ganho de 3,46%, para R$ 15,25 cada uma. A empresa teve sua recomendação elevada de neutra para overweight (desempenho acima da média do mercado) pelo JPMorgan.


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