Folha de S. Paulo


Com crise da indústria, São Paulo perde peso no PIB do país

A crise da indústria e seu fraco desempenho nos últimos anos abateram o PIB da cidade de São Paulo, que perdeu espaço na produção de bens e serviços do país.

Com maior peso relativo da indústria em sua economia, a capital paulista perdeu terreno e sua participação na economia brasileira caiu de 11,6% em 2011 para 11,4% em 2012 (último dado disponível), um recuo significativo em apenas um ano, segundo o IBGE. Os dados integram o PIB dos Municípios, pesquisa divulgada nesta quarta-feira (11) pelo instituto.

De 2008, ano do estouro da crise global, a 2012, a perda da cidade de São Paulo corresponde a 0,4 ponto percentual. Em valores, é como se fossem extraídos da economia paulistana R$ 18 bilhões nesse intervalo, cifra que deixou de ser produzida na cidade por causa da deterioração da indústria.

São Paulo perde terreno na economia do país quase que de modo contínuo. Em 2003, seu peso era de 12,3%.

A cidade sempre foi o segundo maior PIB do país, atrás apenas do Estado do qual é capital. Com a perda provocada pela indústria, o PIB do Estado do Rio superou por pouco o da capital paulista, com peso de 11,5%, 0,1 ponto percentual a mais.

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

Para Sheila Zani, gerente do IBGE responsável pela pesquisa, São Paulo cedeu espaço por causa da crise da indústria de transformação, que "historicamente sempre teve grande importância na cidade". Tanto os preços pagos pelos produtos do setor como o volume de produção, diz, caíram em 2012.

Naquele ano, o PIB cresceu 1%, enquanto a indústria teve uma queda de 2,4% –sentida mais nas cidades mais industrializadas, como São Paulo. Só regiões com vocação para a indústria extrativa, diz, tiveram bom desempenho, como o Norte Fluminense, área produtora de petróleo.

Além de São Paulo, outras cidades onde a indústria têm peso importante também cederam terreno no PIB do país entre 2011 e 2012. É o caso de Manaus (de 1,2% para 1,1%) e São Bernardo do Campo ( de 0,9% para 0,8%).

Zani diz que, além da dificuldade em vender seus produtos, a indústria arcou com custos maiores especialmente com o aumento do preço de matérias-primas, como petróleo e derivados.

A julgar pelos dados de 2013 e 2014, quando a indústria também foi mal, é provável que o PIB de São Paulo e de grande cidades com vocação industrial mantenham a tendência de perda de espaço no país do país,
segundo a técnica do IBGE.

SERVIÇOS

Segundo Zani, as cidades orientadas para a prestação de serviços, setor que tem se mostrado mais dinâmico nos últimos anos, foram as que mais avançaram em participação no PIB, em especial as que concentram atividades de logística e transporte.

É o caso das cidades portuárias de Santos (SP) e São Luís (MA), que ganharam 0,1 ponto percentual de participação no PIB. A primeira abriga o maior porto do país. Na capital maranhense, está instalado o principal terminal de exportação da Vale.

PETRÓLEO

Outra cidade que ganhou 0,1 ponto de peso no PIB foi a fluminense Campos de Goytacases graças ao maior valor do petróleo –já que o volume de produção se manteve praticamente estagnado.

Também por conta do efeito do petróleo outras cidades produtoras ganham terreno no PIB brasileiro, como Cabo Frio (peso de de 0,23% em 2011 para 0,28% em 2012), Rio das Ostras (de 0,22% para 0,26%), Macaé (de 0,30% para 0,33%) - todos no Rio de Janeiro - e Presidente Kennedy (de 0,10% para 0,12%), no Espírito Santo.

CONCENTRAÇÃO

Pelos dados do IBGE, as seis cidades com as maiores participações no PIB do país se mantiveram inalteradas, apesar do recuo de São Paulo. São elas: São Paulo (11,4%), Rio de Janeiro (5%), Brasília (3,9%), Curitiba (1,3%), Belo Horizonte (1,3%) e Manaus (1,1%). Juntas, elas abocanhavam praticamente um quarto do PIB do país.

Em 2012, a geração de renda permaneceu concentrada, com 5,8% dos municípios (324 dos 5.565) respondendo por 75% do PIB. Destes, seis capitais. Entretanto, a participação relativa do conjunto das capitais (33,4%) foi a menor de toda a série histórica, iniciada em 1999.


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