Folha de S. Paulo


Petrobras renova menor valor em dez anos e Bolsa perde os 50 mil pontos

O principal índice da Bolsa brasileira fechou em queda pelo terceiro dia nesta quarta-feira (10), renovando sua menor pontuação desde março. O desempenho negativo foi novamente guiado pelas ações de Petrobras, Vale e bancos, além do cenário de aversão ao risco nos mercados internacionais.

O Ibovespa caiu 1,29%, para 49.548 pontos –menor pontuação desde 26 de março, quando estava em 47.965 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,604 bilhões –abaixo da média diária em 2014, de R$ 7,203 bilhões, segundo dados da BM&FBovespa.

As ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras pressionaram mais uma vez o índice, com perda de 4,67%, para R$ 10,83 cada uma. É o menor valor desde 16 de setembro de 2004, quando valiam R$ 10,78. Já os papéis ordinários da estatal (com direito a voto) cederam 4,17%, para R$ 10,11 –cotação mais baixa desde 11 de junho de 2004, quando estavam em R$ 10,05.

Mais ações coletivas foram abertas nesta quarta contra a Petrobras na Justiça dos Estados Unidos, pedindo ressarcimento aos investidores pelas perdas provocadas pelos casos de corrupção. Em três dias, são cinco processos. Segundo advogados envolvidos, várias ações devem ser protocoladas nas próximas semanas e serão reunidas pela Justiça americana em um grande caso.

CENÁRIOS

Segundo analistas, uma possível suspensão dos ADRs (recibos que representam ações de uma empresa na Bolsa de Nova York) da Petrobras por causa das ações judiciais seria mais um grande problema que a estatal –já envolvida em escândalos de corrupção e sem divulgar balanço auditado– teria de lidar.

Isso porque os ADRs representam cerca de 22% do capital social da empresa e custaria muito para a companhia se fosse necessário realizar a operação de recompra desses papéis em posse dos investidores nos EUA para vendê-los aqui no Brasil, segundo Ricardo Kim, da XP Investimentos. A medida "pressionaria ainda mais as ações [da Petrobras]", disse em relatório.

"A gente vê a Petrobras dentro de uma tendência de baixa há muitos meses. A empresa tem, infelizmente, cada vez menos alternativas de se recuperar. Teria que vender ativos, reduzir capex [investimentos], fazer reajuste nos preços dos combustíveis ou nova emissão de ações, o que é bastante improvável", disse Alexandre Wolwacz, diretor da Escola de Investimentos Leandro & Stormer

"Uma alternativa para quem tem um pouco de conhecimento de mercado seria esperar o papel [da Petrobras] dar uma subida de uns três, quatros dias. Nesse momento, então, o pode vender o papel, reduzindo seu prejuízo. Em seguida, usa o dinheiro para comprar outras oportunidades em setores diversos, com desempenho melhor", acrescentou Wolwacz.

CHINA

A economia chinesa também seguiu no radar dos investidores nesta quarta. A inflação naquele país atingiu mínima de cinco anos em novembro, alimentando expectativas de que Pequim irá agir de forma mais agressiva para conter o risco de deflação em uma economia em desaceleração.

Dados chineses de balança comercial e medidas de aperto no crédito de curto prazo derrubaram os preços das commodities no mundo todo nesta semana, diante de sinalizações de desaquecimento da segunda principal economia global. Nesta terça, as ações preferenciais da Vale –que tem a China como principal destino de suas exportações– mostraram recuo de 3,74%, para R$ 16,98 cada uma.

O setor financeiro também contribuiu para manter o Ibovespa no vermelho, especialmente com a queda de Itaú Unibanco (-1,51%) e do papel preferencial do Bradesco (-2,91%). Os bancos representam o segmento com maior peso dentro do índice e suas ações acumulam forte ganho no ano. Segundo analistas, investidores aproveitaram o momento de aversão ao risco para vender esses papéis e embolsar lucros.

Na contramão da maioria das ações do Ibovespa nesta quarta, os papéis da TIM Participações fecharam em alta de 11,30%, para R$ 12,80. Eles chegaram a subir mais de 14% no dia, após reportagem da Bloomberg afirmando que as rivais Oi, a Telefónica, dona da Vivo, e a Claro, preparam oferta de US$ 15 bilhões pela operadora.

CÂMBIO

No câmbio, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou em alta de 0,65% sobre o real, cotado em R$ 2,611 na venda. É o maior valor desde 18 de abril de 2005, quando valia R$ 2,619. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,57%, para R$ 2,613, renovando sua maior cotação desde 15 de abril de 2005, quando estava em R$ 2,620.

Segundo operadores, a alta do dólar refletiu o aumento da aversão ao risco no exterior, motivando uma procura maior entre os investidores por aplicações consideradas de menor risco, como a moeda americana. O mercado segue cauteloso ainda em relação às medidas que deverão ser tomadas pela nova equipe econômica do governo num cenário de crescimento fraco do PIB, juros em alta e inflação em torno do limite do teto da meta em 12 meses.

O Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, por meio do leilão de 4.000 contratos de swap cambial (operação que equivale a uma venda futura de dólares), pelo total de US$ 198,3 milhões.

A autoridade também promoveu um novo leilão para rolar os vencimentos de 10.000 contratos de swap previstos para 2 de janeiro de 2015, por US$ 490,2 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 40% do lote total com prazo para o segundo dia do mês que vem, que equivale a US$ 9,827 bilhões.


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