Folha de S. Paulo


Petrobras reduz queda no fim do dia, mas ação tem menor valor em 10 anos

Mesmo tendo apresentado recuperação durante a tarde, as ações da Petrobras fecharam esta terça-feira (9) em seu menor valor em dez anos, refletindo a ação coletiva contra a estatal em nome de todos os investidores que compraram ADRs (recibos que representam ações de uma empresa na Bolsa de Nova York) da companhia entre maio de 2010 e 21 de novembro de 2014.

O movimento também ajudou a amenizar o tombo do principal índice da Bolsa brasileira, em conjunto com o bom desempenho dos papéis do Bradesco. Assim, o Ibovespa conseguiu se manter acima dos 50 mil pontos, mas atingiu sua menor pontuação desde março.

"Além da Petrobras, a China anunciou aperto no crédito de curto prazo e, mais uma vez, influenciou negativamente os preços das commodities, derrubando os principais mercados de ações globais nesta terça", disse Leonardo Bardese, estrategista da BGC Liquidez. Para ele, a cautela em relação à economia brasileira e às medidas que deverão ser tomadas pela equipe econômica contribuíram para a queda da Bolsa.

"Mesmo que tenha havido anúncio de uma equipe ortodoxa, os fundamentos econômicos do país continuam ruins. Houve perda de governança em muitos setores, o que é especialmente monitorado pelos estrangeiros. Ainda vai demorar para a nova equipe conseguir uma recuperação saudável, com retomada mais forte do crescimento", afirmou.

A retomada do Ibovespa, segundo Julio Hegedus, economista-chefe da Lopes Filho, deve ficar para 2015. "O final de ano vai ser marcado por muita especulação em torno dessas medidas. Temos que ver quanto o Joaquim Levy [indicado à Fazenda] vai convencer o mercado de que fará um trabalho independente, superando as imposições de partidos", disse.

O Ibovespa fechou em leve queda de 0,16% nesta terça, para 50.193 pontos –menor pontuação desde 28 de março, quando ficou em 49.768 pontos. O volume financeiro foi de R$ 6,468 bilhões –abaixo da média diária em 2014, de R$ 7,206 bilhões, segundo dados da BM&FBovespa. Foi a segunda queda consecutiva do índice, que já acumula perda de 8,28% no mês e de 2,55% no ano.

As ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras encerraram o pregão em queda de 1,22%, para R$ 11,36 –menor valor desde 9 de dezembro de 2004, quando valiam R$ 11,30. Já os papéis ordinários (com direito a voto) da estatal caíram 1,59% no dia, para R$ 10,55 cada um –cotação mais baixa desde 27 de julho de 2004, quando estavam em R$ 10,54.

De acordo com o analista Ricardo Kim, da XP Investimentos, caso a ação em Nova York gere a suspensão dos ADRs da estatal, "[...] a BMFBovespa informou que poderia ocorrer um 'buyback' das ADRs pela própria Petrobras, ou seja, a companhia realizaria um leilão [para recomprar os papéis dos investidores]". Segundo o analista, caso isso ocorra, a Petrobras tentaria vender essas ações aqui no Brasil, devido ao seu problema de caixa.

Os ADRs representam 22% do capital social da Petrobras, afirmou Kim, ou cerca de R$ 31 bilhões, considerando que a cifra total atualmente gira em torno de R$ 144 bilhões. O analista acredita que, caso a Petrobras tenha que realizar o "buyback" e depois vender as ações no Brasil para poder reduzir esse prejuízo, "geraria um problema bem sério".

"Poderíamos ver uma queda de mais de 10% [das ações] se isso ocorrer? Sim, poderemos, pois se a companhia tentar vender, no atual cenário, R$ 31 bi no mercado doméstico, pressionará ainda mais as ações", disse.

PAPÉIS

Também pressionou o Ibovespa nesta terça a queda das ações preferenciais da Vale, de 2,33%, para R$ 17,64 cada uma. A baixa novamente seguiu a desvalorização dos preços do minério de ferro na China. A mineradora também fechou acordo com a japonesa Mitsui para a trading de commodities assumir uma participação na mina de carvão Moatize, em Moçambique.

O setor financeiro amenizou o efeito da perda das grandes produtoras de commotidies sobre a Bolsa brasileira. O papel preferencial do Bradesco subiu 2,33%, para R$ 36,41, após o banco anunciar pagamento de juros sobre o capital próprio para seus acionistas. Já o Itaú Unibanco ganhou 0,39%, para R$ 35,79. Os bancos representam o segmento com maior peso dentro do Ibovespa.

Na contramão, o Banco do Brasil viu suas ações caírem 2,52%, para R$ 25,16 cada uma, após a coluna de Bernardo Mello Franco, da Folha, apontar que o Planalto ofereceu ao deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) uma vice-presidência no maior banco do país.

Outra estatal, a Eletrobras também fechou no vermelho, após a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) ter negado nesta terça-feira pedido da empresa por revisão extraordinária da tarifa de repasse de potência de Itaipu em 2014. As ações preferenciais da empresa cederam 2,51%, para R$ 6,59 cada uma.

CÂMBIO

Após ter batido na véspera seu maior valor desde 2005, a cotação da moeda americana voltou a cair nesta terça-feira. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve desvalorização de 0,71% sobre o real, cotado em R$ 2,596 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, cedeu 0,49%, para R$ 2,598.

Segundo operadores, a queda do dólar refletiu a fala de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, durante audiência pública no Congresso Nacional nesta terça. Tombini sinalizou novas altas da taxa básica de juros no próximo ano, sem dar pistas sobre a duração e intensidade dos aumentos.

Tombini disse ainda que o programa intervenções diárias no câmbio pelo BC tem atingido "plenamente seus objetivos" e que não tem a intenção de reverter as posições de swaps da instituição. A autoridade efetuou nesta terça seu leilão programado de 4.000 contratos de swap cambial (operação que equivale a uma venda futura de dólares), pelo total de US$ 198,3 milhões.

O BC também promoveu um novo leilão para rolar os vencimentos de 10.000 contratos de swap previstos para 2 de janeiro de 2015, por US$ 491,6 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 35% do lote total com prazo para o segundo dia do mês que vem, que equivale a US$ 9,827 bilhões.

Se as intervenções diárias forem reduzidas ou eliminadas no ano que vem, a oferta de liquidez do mercado de câmbio brasileiro diminuiria justamente no ano em que se espera que o Federal Reserve, banco central americano, comece a elevar as taxas de juros, o que pressionaria ainda mais a cotação do dólar em relação ao real.

Com Reuters


Endereço da página:

Links no texto: