Folha de S. Paulo


Ações da Petrobras renovam menor valor desde 2005; dólar vai a R$ 2,61

Sinais de desaceleração da segunda maior economia do mundo, a China, derrubaram os preços das commodities nesta segunda-feira (8) e afetaram as ações das produtoras globais de matérias-primas. No Brasil, o principal índice da Bolsa cedeu mais de 3%, puxado por ações de Petrobras, Vale e bancos.

O Ibovespa teve desvalorização de 3,31%, para 50.274 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,061 bilhões –bem abaixo da média diária de 2014, de R$ 7,215 bilhões, segundo dados da BM&FBovespa. Em dezembro, a média diária é de R$ 5,737 bilhões. Com este desempenho, o índice aprofundou a desvalorização acumulada em 2014 a 2,39%. No mês a queda chega a 8,13%.

No câmbio, a moeda americana ganhou força refletindo os dados adversos na Ásia. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou em alta de 0,88% sobre o real, cotado em R$ 2,613 na venda –maior preço desde 18 de abril de 2005, quando valia R$ 2,619. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,65%, para R$ 2,611 –mais alta cotação desde 15 de abril de 2005, quando estava em R$ 2,620.

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"Além das outras commodities, o petróleo caiu muito [mais de 4%], adicionando mais um fator de preocupação para investidores de Petrobras, que já estão atentos aos escândalos de corrupção na companhia e ao balanço não auditado que está previsto para esta semana", diz James Gulbrandsen, da gestora NCH Capital no Brasil.

O barril de petróleo negociado em Nova York (WTI) caiu para a casa dos US$ 63 nesta segunda, enquanto o Brent, negociado em Londres, foi para a casa de US$ 66 por barril. "A Petrobras tem um custo de exploração de US$ 55 por barril. Quando o preço [do petróleo] se aproxima disso, limita a margem de ganho da empresa", acrescenta Gulbrandsen.

As ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras perderam 6,20% –maior tombo diário desde 29 de outubro, quando cedeu 6,72%– para R$ 11,50 cada uma. É o menor valor desde 28 de abril de 2005, quando os papéis valiam R$ 11,49.

Já as ações ordinárias da petroleira, com direito a voto, tiveram perda de 6,38%, para R$ 10,72 cada uma –menor valor desde 3 de agosto de 2004, quando valiam R$ 10,66 cada uma (os valores históricos já estão ajustados pela capitalização feita pela empresa em 2010).

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AVERSÃO

Na China, as exportações subiram 4,7% em novembro na comparação com o mesmo mês do ano passado, enquanto as importações caíram 6,7%, maior baixa desde março. Os números deixaram o país com superavit comercial recorde de US$ 54,5 bilhões. Economistas consultados pela Reuters esperavam alta de 8,2% nas exportações, avanço de 3,9% nas importações e superavit comercial de US$ 43,5 bilhões.

Os papéis preferenciais (sem direito a voto) da Vale tiveram desvalorização de 3,42%, para R$ 18,06 cada um. A China é o principal destino do minério de ferro produzido pela companhia brasileira. O setor siderúrgico também mostrou baixa: CSN caiu 5,24%, Gerdau recuou 4,39% e a ação preferencial da Usiminas cedeu 3,91%.

Segundo analistas, investidores também aproveitaram o clima de aversão ao risco para vender ações do setor financeiro –que têm forte alta no ano– e embolsar lucros. Com isso, os papéis do Itaú Unibanco tiveram desvalorização de 3,73%, enquanto o Banco do Brasil caiu 5,21% e o Santander Brasil registrou perda de 2,87%. Já a ação preferencial do Bradesco recuou 5,02%. Os bancos são o segmento com maior peso dentro do Ibovespa.

Das 70 ações que compõem o Ibovespa, apenas quatro não tiveram queda: os papéis preferenciais da Eletrobras (+1,05%), a Suzano (+0,45%), a Qualicorp (+0,32%) e os papéis ordinários da Eletrobras (0,18%). A alta do dólar no dia beneficia exportadoras como a Suzano.

Já o ganho da Eletrobras ocorreu após a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) ter sinalizado possibilidade de reconhecer que os valores correspondentes às inadimplências de pagamentos das distribuidoras à companhia devem ser considerados no saldo da Conta de Comercialização de Energia Elétrica de Itaipu.

CÂMBIO

Além da aversão trazida por dados ruins na Ásia, o avanço do dólar, segundo operadores refletiu as incertezas em relação à economia brasileira. "Sabemos que o novo ministro da Fazenda agradou, mas o mercado agora espera medidas efetivas para que o governo possa resgatar credibilidade", diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Segundo Galhardo, os investidores estão inseguros em relação à boataria gerada em torno das possíveis medidas, como taxação de dividendos (parte do lucro das empresas distribuída entre os acionistas). "Ainda não há alívio previsto para o curto prazo. O mercado aproveita para testar até que nível de dólar o Banco Central vai 'aturar'", afirma.

Atuações do BC no câmbio nesta segunda-feira não foram suficientes para evitar a alta da moeda, mas amenizaram seu avanço. A autoridade monetária deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias, por meio do leilão de 4.000 contratos de swap cambial (operação que equivale a uma venda futura de dólares), pelo total de US$ 198,6 milhões.

O BC também promoveu um novo leilão para rolar os vencimentos de 10.000 contratos de swap previstos para 2 de janeiro de 2015, por US$ 490,5 milhões. Até o momento, o BC já rolou cerca de 30% do lote total com prazo para o segundo dia do mês que vem, que equivale a US$ 9,827 bilhões.

Houve ainda um leilão de linha de crédito de US$ 1 bilhão para injetar recursos novos no mercado. É uma operação em que o BC vende a moeda estrangeira, mas com a obrigação, por parte de quem toma o empréstimo, de devolver o dinheiro após um determinado período. Os empréstimos atendem a uma demanda de fim de ano por dólares, principalmente de exportadores.


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