Folha de S. Paulo


Para manter emprego, funcionário vira chefe na Argentina

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Em junho, o dono de uma rede de fast food de Buenos Aires chamada Nac & Pop desapareceu sem dar explicações, e cerca de 170 empregados pararam de receber.

Pouco depois, o departamento de RH da empresa começou a demitir. Até o fim de setembro, o negócio seguiu sem chefe. Havia 22 restaurantes da Nac & Pop na capital argentina.

Jairo Arano, 24, um dos funcionários, diz que ele e os colegas começaram a conversar para tentar entender o que estava acontecendo e se mobilizar. "As vendas seguiam boas, mas nos deviam três meses de salários e não estávamos mais aguentando."

A grande maioria dos pontos fechou, mas dois foram tomados pelos trabalhadores. Viraram, no jargão argentino, empresas "recuperadas".

Essa expressão designa uma empresa que quebrou, fechou e depois foi ocupada pelos funcionários. Na Argentina, essa foi uma maneira de manter os empregos que se tornou popular a partir da crise de 2001. Elas são tema de um documentário que está em cartaz na cidade, chamado "Sem Patrão".

Para poder ter uma sociedade, os trabalhadores formam uma cooperativa em que não há um chefe.

O esquema tem funcionado bem para Arano: "Cuidamos muito melhor do negócio do que na época em que éramos empregados. Esses lugares são pequenas minas de ouro se se gerencia bem".

SOLUÇÃO NATURAL

A ideia de uma cooperativa que nasce a partir de uma empresa que quebrou surgiu na Argentina, afirma o professor da Universidade de Buenos Aires Andrés Ruggeri, que escreveu três livros sobre o tema. "Hoje, a solução parece natural", diz.

Segundo ele, há cerca de 320 casos no país. São empresas de setores como frigoríficos, hotéis e restaurantes, mas a concentração é na indústria: fábricas de cerâmica, metalúrgica, empresas de produtos têxteis e gráficas.

Desse último exemplo há um caso muito recente: a multinacional RR Donnelley decretou o fechamento no dia 11 de agosto. "Chegamos para trabalhar e topamos com um cartaz falando da quebra. Tinha um número de telefone para tirarmos nossas dúvidas", relata Hernando Charles, 38, um dos empregados. No dia seguinte, começou a ocupação.

Ele relata que antes da quebra eram 400 empregados, dos quais 204 seguem trabalhando, agora em uma cooperativa. Todo o setor de gerência foi embora, e os cooperados buscam novos executivos de vendas e marketing. "Mas não diretores, isso seria voltar à mesma lógica de antes", afirma.


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