Folha de S. Paulo


Pessoa física tem a menor fatia em 16 anos na Bolsa

O sobe e desce da Bolsa neste ano levou à maior fuga de pessoas físicas do mercado de ações dos últimos 16 anos. Até 25 de novembro, a parcela dos pequenos investidores na BM&FBovespa era de 13,9% –se terminar 2014 dessa forma, será o menor nível anual desde 1998, quando foi de 12,3%.

Mesmo no auge da crise global, em 2008, a proporção de pessoas físicas na Bolsa era o dobro da atual: 26,7%. Foi a 30,5% em 2009, mas, desde então, tem caído a cada ano. Em 2013, chegou a 15,2%.

A alta volatilidade é o que mais afugenta esse investidor, segundo analistas. Neste ano, isso foi intensificado pelo pessimismo econômico e pelo aumento dos juros.

Com isso, o Ibovespa chegou a acumular, em 2014, queda de 12,7% em março (mínimo de 44.965 pontos no índice) e alta de 20,2%, no início de setembro –quando bateu seu maior nível no ano, de 61.895 pontos.

A diferença entre a pontuação mínima e a máxima do Ibovespa desde janeiro até agora é de 16.930 pontos.

"Quando perde, o investidor tende a ficar mais apreensivo. Todo o noticiário o assusta. Quem entra no mercado e se depara com um problema como esse da Petrobras, por exemplo, na primeira perda já fica traumatizado", diz Elad Revi, analista-chefe da Spinelli Corretora.

A deterioração das ações da Petrobras teve papel importante na saída das pessoas físicas do mercado, segundo André Perfeito, economista-chefe da Gradual. Com controle estatal, a Petrobras é a maior empresa do país e suas ações são as mais negociadas. As ações preferenciais (sem direito a voto) da petroleira chegaram a custar R$ 12,57 cada uma em meados de março, com queda acumulada de 26,4% em 2014.

Desde então, tiveram uma ligeira recuperação, mas depois caíram em 18 de novembro ao menor nível desde 2005, a R$ 12,45. O preço atual de R$ 12,80 é bem menor que o de 2008, quando passou de R$ 50.

"Essa deterioração foi provocada por motivos internos [escândalos de corrupção] e externos [queda no preço do petróleo]. Além disso, houve grande esforço da estatal para fazer investimento, o que aumentou a dívida, contribuindo para que o carro-chefe da Bolsa perdesse valor."

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A REBOQUE

Uma característica do pequeno investidor é o "timing de operação", que, normalmente, está atrasado. "A pessoa física, em geral, é levada a reboque. Ela entra quando está subindo e sai quando está caindo. A demora para tomar as decisões é da natureza desse perfil", diz Perfeito.

Isso porque a pessoa física geralmente tem menos tempo para monitorar o mercado com frequência, o que dificulta identificar a hora certa para comprar e vender as ações.

"Os pequenos investidores só vão voltar para a Bolsa depois que o mercado já tiver subido. Eles não vêm antes, não fazem a Bolsa subir, mas potencializam sua alta."

Para que isso ocorra, segundo Luciano Rostagno, estrategista do Banco Mizuho, é preciso resgatar a confiança no país. "Também precisamos passar mais segurança. Falta melhor regulação: precisa facilitar a abertura de capital e melhorar a exigência na governança das empresas", disse.

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