Folha de S. Paulo


Importações de petróleo da Opep pelos EUA são as mais baixas em 30 anos

As importações de petróleo cru dos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) pelos Estados Unidos estão em seu mais baixo nível em quase 30 anos, o que destaca o impacto da revolução do xisto nos fluxos mundiais de comércio.

A dependência menor de importações do cartel, responsável por um terço do petróleo extraído no planeta, vem em meio a avanços nos métodos de fratura hidráulica que conduziram a produção interna de petróleo dos Estados Unidos a cerca de nove milhões de barris diários –o total mais alto desde a metade dos anos 80.

Em agosto, a proporção da Opep nas importações de petróleo norte-americanas caiu a 40% - o equivalente a 2,9 milhões de barris diários, e a mais baixa proporção desde maio de 1985, de acordo com uma análise do "Financial Times" sobre dados do Departamento da Energia. Em seu pico, em 1976, a proporção de petróleo importado pelos Estados Unidos da Opep atingia os 88%.

Brian Peterson/Xinhua
Zona de processamento de areia em Minnesota, Estados Unidos; fratura hidráulica é uma técnica para extrair gás de rochas
Zona de processamento de areia nos EUA; fratura hidráulica é técnica para extrair gás de rochas

XISTO

O declínio no apetite norte-americano por petróleo estrangeiro, bem como a expansão na demanda oriental, significa que os produtores do Oriente Médio, África Ocidental e América Latina estão se voltando à Ásia. Mas a despeito do boom do xisto betuminoso, que reduziu sua dependência quanto ao petróleo importado, os Estados Unidos continuam a ser o segundo maior importador mundial da commodity, em termos líquidos, atrás apenas da China.

O impacto do boom do xisto betuminoso sobre os membros da Opep varia. Países africanos como a Argélia e a Líbia foram os mais prejudicados, enquanto Arábia Saudita e Venezuela se mantiveram relativamente firmes.

"Foi a África que sofreu a mais severa compressão", diz Paul Hornsnell, analista do Standard Chartered.

A Nigéria, que produz petróleo cru semelhante ao extraído dos campos do Dakota do Norte, nos Estados Unidos, foi a principal vítima do boom do xisto norte-americano. As exportações do país aos Estados Unidos pararam, em julho, depois de ter atingido um pico de 1,37 milhão de barris diários em 1979.

A abundância de combustíveis fósseis é o tema do momento, mas tendências de longo prazo sugerem que a oferta restrita de recursos naturais voltará a se tornar questão no futuro.

As importações norte-americanas de petróleo da Arábia Saudita –maior produtor da Opep–, em agosto, foram de 894 mil barris ao dia, ou 12% do total.

ARÁBIA SAUDITA

Os analistas afirmam que essas importações de petróleo cru mais pesado cresceram, depois disso. No pico de sua participação, o país do Golfo Pérsico respondia por um terço das importações norte-americanas totais.

Alguns analistas afirmam que o boom do xisto ameaça o domínio que a Arábia Saudita e outros produtores do Oriente Médio vêm exercendo sobre o setor por boa parte dos últimos 100 anos. Mas Bassam Fattouh, diretor do Oxford Institute for Energy Studies, diz que a Opep retém grande influência sobre os mercados mundiais. "É difícil conceber que um produtor de alto custo possa tirar do mercado um produtor de baixo custo", ele afirmou em um estudo.

Outros dizem que a Arábia Saudita é o único país produtor de petróleo que tem capacidade para expandir significativamente a sua produção em curto prazo.

A Agência Internacional de Energia (AIE), organização dos países ricos para fiscalizar os mercados de energia, disse que o mundo continuava dependente das vastas reservas petroleiras do Oriente Médio para atender à sua futura demanda.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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