Folha de S. Paulo


Comércio entre Brasil e Índia segue tímido apesar de esforços dos Brics

Apesar da parceria no grupo Brics e das trocas de elogios constantes, as relações econômicas entre Índia e Brasil permanecem tímidas, se comparadas a outros países.

Os investimentos diretos entre as duas nações são um exemplo. Entre janeiro e setembro deste ano, o Brasil destinou US$ 20 bilhões em investimentos diretos no exterior. As maiores quantias foram destinadas a ilhas Cayman (31,6%), um paraíso fiscal, Portugal (21,5%) e EUA (10,6%). A Índia recebeu US$ 1 milhão –apenas 0,05%.

Da mesma forma, dos US$ 41 bilhões recebidos pelo Brasil em IED (Investimento Estrangeiro Direto) no mesmo período, apenas US$ 14 milhões vieram da Índia, ou 0,03% do total. Países Baixos (15,4%), Estados Unidos (15,3%), Espanha (11,6%) e Luxemburgo (11,5%) foram os maiores investidores.

A China, outro parceiro do Brics, trouxe 2%.

EMPRESAS

Ainda assim, estão presentes no Brasil empresas indianas como a Tata Motors (fabricante da Jaguar e Land Rover), Infosys (empresa de tecnologia da informação) e Ranbaxy (farmacêutica).

Em contrapartida, estão investindo na Índia a siderúrgica Gerdau (no Estado de Andhra Pradesh), a fabricante de ônibus Marcopolo (Karnataka e Uttar Pradesh) e a de motores e maquinário WEG (Tamil Nadu, Uttar Pradesh e Karnataja), entre outras.

Segundo um estudo divulgado no India-LAC Investment Conclave, que ocorreu em outubro em Nova Déli, os setores mais promissores para o investimento estrangeiro direto da Índia no Brasil nos próximos anos são os de serviços financeiros e a produção de farmacêuticos, automotivos e semicondutores.

Segundo o relatório, se nos anos 2000 os empresários indianos viam os países latino-americanos e caribenhos principalmente como fonte de recursos naturais, como petróleo, gás e metais, hoje cresce o interesse na área automotiva e industrial.

Segundo o Banco Central, os fluxos de investimentos diretos entre Brasil e Índia ainda "são poucos significativos" em relação ao total. Assim, são as trocas comerciais "de longe" o mais importante canal de relacionamento econômico entre os países.

O Brasil exportou para a Índia, entre janeiro e setembro deste ano, bens que totalizaram US$ 3,4 bilhões (1,95% do total de exportações).

Em contrapartida, importou um total de US$ 5 bilhões (2,86% do total), resultando em um deficit comercial bilateral de US$ 1,6 bilhão.

Os números não são excepcionais. Desde 2005, o Brasil é deficitário na relação, com exceção de 2009 e 2012.

COMÉRCIO FRACO

Apesar de ter firmado um acordo comercial com a Índia em 2009, por meio do Mercosul, as vendas brasileiras para o país nunca chegaram a deslanchar.

Os principais produtos cujo destino é a Índia –óleos brutos de petróleo (49% do total exportado) e açúcares da cana (14%)– não fazem parte do tratado, que garante preferência tarifária para 450 tipos de mercadorias, de um cardápio de quase 10 mil.

O objetivo do acordo era ampliar esse número, o que não ocorreu.

Para a ministra de Comércio e Indústria da Índia, Nirmala Sitharaman, essa paralisia ocorreu por conta da crise financeira mundial de 2008, que levou à estagnação econômica de todos os países entre 2009 e 2014.

No entanto, segundo ela, é prioridade do primeiro-ministro Narendra Modi, eleito neste ano, revigorar a economia indiana. "O novo governo acaba de chegar ao poder. Estamos dispostos a aumentar a lista de produtos com tarifas reduzidas que temos com o Brasil", disse à Folha.

O principal produto indiano comprado pelo Brasil é o óleo diesel, que responde por mais de 53% das importações. Em segundo lugar, estão os fios têxteis de poliéster, mas estes só responderam por 2,3% das importações de janeiro a setembro.

Ao todo, as trocas comerciais entre a Índia e os países da América Latina e Caribe atingiram a cifra de US$ 42 bilhões em 2013. Em discurso no India-LAC Investment Conclave, Sitharaman disse que esse volume não reflete todo o potencial que poderia ser alcançado com a ampliação dos laços comerciais e econômicos das duas regiões.

"Dobrar esse número nos próximos anos deve ser nosso objetivo coletivo, e os investimentos bilaterais podem ajudar a atingir esse marco."


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