Folha de S. Paulo


Varejistas dizem que Natal vai de 'morno' em 2013 a 'frio' em 2014

Com a decisão de usar a primeira parcela do 13° salário para pagar dívidas ou poupar, diante das incertezas dos rumos da economia, o gasto do consumidor deve encolher no Natal deste ano.

Representantes de associações do comércio paulista, de lojistas de shoppings e consultorias do varejo afirmam que os desembolsos devem ser mais contidos nas comemorações deste ano.

Mas o tamanho desse encolhimento ainda é incerto. Em parte depende ainda da segunda parcela do 13º salário, que deve ser paga até o dia 20 de dezembro.

A intenção de gastar menos no final do ano é apontada também em pesquisa da Deloitte com mil consumidores. Neste ano, 46% pretendem desembolsar menos dinheiro e 40% informaram que devem gastar o mesmo montante gasto em 2013. No ano passado, eram 41% e 38% respectivamente.

A tendência vai na mesma linha dos dados constatados pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas): 33% dos brasileiros querem gastar menos com presentes de Natal. No ano passado, eram 13%. Foram 624 entrevistados nas 27 capitais, na primeira semana de outubro.

Nelson Antoine - 14.dez.2013/Fotoarena/Folhapress
Consumidores fazem compras na 25 de Março, centro de comércio popular de São Paulo, às vésperas do último Natal
Consumidores fazem compras na 25 de Março, no centro de São Paulo, às vésperas do último Natal

"Com a inflação e preços mais elevados, o consumidor pensa duas vezes na hora de gastar. Se o Natal já foi 'morno' em 2013, neste ano está mais para 'frio'", afirma Marcel Solimeo, economista-chefe da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).

A previsão da associação é que o varejo deva crescer 2% neste ano, metade do desempenho do ano passado.

"Quase um terço dos consumidores vai usar a primeira parcela do 13º para quitar dívidas ou poupar. O consumidor está mais cauteloso e preocupado com a alta de juros e crédito mais escasso", diz Solimeo, ao se referir à pesquisa do Instituto Ipsos para a associação. Foram mil consumidores de 22 Estados ouvidos de 16 a 31 de outubro.

Os lojistas dos shoppings também esperam desaceleração nas vendas deste ano. "Se consideramos o critério mesmas lojas, o crescimento será 1% superior ao de 2013", diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings). A entidade reúne 129 mil pontos de venda em 866 shoppings do país.

Em um grupo de 450 consumidores de classe média, o gasto com a Ceia de Natal (inclui alimentos e bebidas) e presentes no ano passado foi, em média, R$ 2.800 no ano passado. "Neste ano, pretendem gastar R$ 2.000", diz Luis Augusto Ildefonso da Silva, diretor de relações institucionais da Alshop.

Flávio Calife, economista da Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), ressalta que a demanda por crédito é 5,6% menor no acumulado de janeiro a setembro, quando comparada a igual período de 2013.

"Com a inflação mais elevada e alta dos juros, o brasileiro tem menor propensão em se endividar", diz. Em 2013 e 2012, a demanda por crédito nesses meses foi de 3% e 12%, respectivamente.

Afetados pela alta do dólar, os importadores já esperam resultados mais contidos. Em consulta a 70 associados, a Abcon, associação de importadores de bens de consumo, constatou 35% de queda no volume importado.

Segundo a Abcon, os preços do cerca de 5.000 itens importados devem ser entre 10% e 20% maiores neste final de ano, o que trará impacto nas vendas.


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