Folha de S. Paulo


Desaceleração da economia chinesa se torna o 'novo normal'

Uma expressão tem se repetido no discurso das autoridades chinesas sobre a desaceleração da economia: este é o "novo normal".

Depois de três décadas crescendo a uma média anual de 10%, o PIB chinês perdeu velocidade a partir de 2010 e a meta oficial para este ano é de 7,5%. Se for cumprida, será a menor taxa desde 1990.

"Sob as novas condições, o crescimento econômico da China se tornou mais estável e conduzido por forças mais diversas", disse o presidente da China, Xi Jinping, neste domingo (9), num encontro de lideranças empresariais em Pequim.

Embora a maioria dos economistas concorde com a premissa do governo chinês, de que a desaceleração é um mal necessário para corrigir as distorções criadas nos últimos anos, há dúvidas sobre a capacidade de Pequim de evitar um pouso forçado.

Editoria de Arte/Folhapress

Alguns indicadores preocupam. Entre eles, o crescimento de 7,3% no terceiro trimestre, menor taxa do período em cinco anos. Alguns preveem que, pela primeira vez desde 1998, a China não cumprirá a meta de crescimento.

Mas também há sinais positivos. As reformas econômicas anunciadas há um ano começaram, ainda que timidamente. Uma delas é a fiscal, destinada a conter a alta dívida dos governo locais.

O plano aprovado pelo Ministério das Finanças tenta aumentar a transparência das dívidas de províncias e prefeituras, embaralhadas numa série de mecanismos de crédito do desregulado sistema financeiro paralelo.

Uma das decisões foi permitir que os governos locais emitam títulos que substituam as dívidas. Também serão encorajadas parcerias público-privadas para financiar projetos de infraestrutura.

"Até agora, o problema da dívida foi efetivamente contido", comentou o economista Chen Long, num relatório da consultoria econômica Gavekal Dragonomics.

Para Yukon Huang, que foi diretor do Banco Mundial na China entre 1997 e 2004, o alarme sobre o endividamento chinês é exagerado. Primeiro, diz ele, porque só 18% das dívidas do "shadow banking" são de alto risco, o que não representa uma ameaça ao sistema financeiro. Segundo porque apesar de alta, em torno de 240% do PIB, a dívida da China está abaixo do nível de países ricos.

Li Tao/Xinhua
O presidente chinês e comandante das forças armadas do país, Xi Jinping, faz pronunciamento em Pequim
O presidente chinês e comandante das forças armadas do país, Xi Jinping, faz pronunciamento

CRÉDITO

Ocorre que, apesar de ter diminuído nos últimos meses, o crédito continua crescendo num ritmo bem mais acelerado que o PIB.

Michael Pettis, da Universidade de Pequim, acha que a única alternativa é apertar o crédito, mesmo que isso reduza o crescimento para 4%.

O governo chinês tem afirmado que está disposto a tolerar um crescimento menor para permitir a transição do atual modelo, baseado em investimento e exportações, para um mais sustentável, com base no consumo e no aumento da eficiência.

Um dos desafios é vencer as resistências de quem se beneficia com o status quo, como os dirigentes das mais de 150 mil estatais. Desde a crise financeira de 2008, a produtividade das empresas privadas tem sido o dobro das estatais, segundo a consultoria Gavekal Dragonomics.

"O foco sempre foi no tamanho, mas agora é preciso investir na eficiência", diz o economista Liu Qiao, da Universidade de Pequim.

Uma das graves consequências da alocação distorcida do crédito é o excesso de capacidade em diversos setores da indústria, observa Liu. O setor de aço é o exemplo mais visível: apesar da demanda reduzida, a produção aumentou 5,4% nos primeiros nove meses deste ano.

O excesso de capacidade e a queda na demanda chinesa derrubaram o preço do minério de ferro, que em setembro atingiu o menor nível em cinco anos.


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