Folha de S. Paulo


Niterói amplia acesso à água com rede de distribuição automatizada

O promotor de vendas Jorge de Sá, 54, preserva na memória a época em que, menino, subia as ladeiras da favela Peixe Galo, no bairro de Jurujuba, a 12 km do centro de Niterói, região metropolitana do Rio, carregando nas pontas de uma vara de madeira nos ombros duas latas com 18 litros d'água.

"Eu me lembro do peso que era carregar a água ladeira acima. Começava o trajeto às 3h e ia até o sol raiar. Meu despertador era o barulho das latas dos vizinhos batendo umas nas outras", recorda.

INFRAESTRUTURA
Iniciativas bem-sucedidas barateiam custos

Sá ainda carregaria latas durante 20 anos. Mesmo no fim dos anos 1990, em boa parte das regiões afastadas do centro de Niterói o esgoto era em fossa, e a água vinha de poços ou bicas.

Hoje, as casas de tijolos aparentes da favela de Peixe Galo, das quais se vê o mar, têm abastecimento garantido, em parte por causa da entrada da iniciativa privada na gestão de saneamento da cidade fluminense.
Em 1999, saiu a Cedae, a empresa estadual de esgoto, e entrou a Companhia Águas de Niterói, empresa do Grupo Águas do Brasil.

Segundo o superintendente da Águas de Niterói, Nelson Gomes, uma mudança na maneira de gerir a distribuição de água permitiu aumentar, no intervalo de dois anos, em 36% a quantidade de pessoas atendidas pelo serviço sem que fosse necessário elevar o volume de água consumida pelo município.

Quando a empresa assumiu a concessão, afirma ele, apenas 330 mil dos então cerca de 450 mil habitantes da cidade tinham água encanada. Um número ainda menor tinha esgoto tratado.

Niterói não tem manancial de água e compra diretamente a produção da Cedae, que distribui água para a capital do Rio e toda sua região metropolitana. De 1999 até o início de 2014, mesmo com o aumento populacional registrado no período, a empresa permaneceu comprando todo mês 1.800 litros de água por segundo por dia -uma pessoa adulta gasta em média 250 litros de água por dia.

"Fizemos um esforço tal para reduzir as perdas que conseguimos universalizar a distribuição de água em Niterói somente com ampliação de rede, sem precisar comprar mais do produto", diz Gomes, que recentemente aumentou o contrato em mais 200 litros por segundo/dia, para ter margem.

REARRANJO

Atualmente, segundo os dados mais recentes do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), ligado ao Ministério das Cidades, todos os 491,8 mil moradores da cidade têm água encanada. E 92,8% têm esgoto.

Niterói figura no 14º lugar na edição de 2013 do Ranking do Saneamento elaborado pelo Instituto Trata Brasil com os dados do SNIS.

O município chegou a ser, em 2008, o terceiro melhor no ranking que avalia cobertura de água e esgoto, esforço para universalização do serviço e eficiência na operação.

Para reduzir perdas, a empresa construiu um centro de monitoramento e controle automatizado da rede de distribuição, rearranjou as equipes de manutenção de vazamentos, trocou o parque de hidrômetros -substituído a cada quatro anos- e empreendeu uma cruzada contra ligações irregulares.

Segundo o SNIS, Niterói tem hoje percentual de perdas, físicas ou de faturamento, de 19,55%, enquanto a média nacional é de 37,7%.

"Uma empresa de saneamento que quer se reestruturar precisa primeiro organizar a engenharia para reduzir suas perdas", explica o sócio da consultoria Go Associados, Gesner Oliveira, presidente da Sabesp de 2007 a 2010. "Muitas vezes ela nem tem noção do quanto perde, seja por vazamentos, furtos de água ou por submedição do consumo dos clientes."

"Perder água é perder dinheiro", concorda Gomes, da Águas de Niterói. Ainda que os resultados sejam positivos, o vereador de oposição Henrique Vieira (PSOL) vê o movimento com ressalvas. Segundo ele, bairros de classe média baixa da zona norte da cidade, a despeito da rede de água que chega, têm problemas graves de tratamento de esgoto, por carecer de uma estação de tratamento próxima.

Ele afirma que a política de ampliação do sistema de esgoto colocada em prática pela empresa dá preferência a áreas de classe média alta, que vivem hoje a valorização imobiliária. Até a conclusão desta edição, a Águas de Niterói não havia se posicionado sobre as declarações.


Endereço da página:

Links no texto: