Folha de S. Paulo


Funcionários da Nissan dos EUA fazem protesto no Salão do Automóvel

Trabalhadores brasileiros e americanos da Nissan fizeram protesto pacífico no estande da montadora no Salão do Automóvel de São Paulo nesta sexta-feira (31) para chamar a atenção do consumidor para as condições de trabalho nos EUA.

Há quase dois anos, lideranças sindicais da fábrica de Canton (Mississippi) têm informado que a montadora não permite que os funcionários se sindicalizem e dificulta as negociações para melhorar as condições de trabalho.

Com apoio da UGT, da CUT e da Força Sindical, três centrais sindicais do país, um grupo de 80 funcionários e sindicalistas comprou ingressos, disfarçados de visitantes para não chamar a atenção dos organizadores do evento, e decidiu fazer uma manifestação surpresa.

Por baixo da camisa, usavam uma camiseta amarela com os dizeres "A Nissan não respeita os direitos dos trabalhadores".

É a primeira vez na história dos salões de automóveis que um protesto de trabalhadores como esse ocorre.

Na quinta-feira (30), um ativista do Greenpeace fez um protesto na abertura do evento pedindo "carros eficientes já".

Nesta sexta, metalúrgicos da GM de São José dos Campos e da CSP-Conlutas, central sindical ligada ao PSTU, também se manifestaram na porta do salão. Agora, foram os funcionários da Nissan.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Trabalhadores durante protesto no estande da Nissan no Salão do Automóvel de São Paulo
Trabalhadores durante protesto no estande da Nissan no Salão do Automóvel de São Paulo

"Nós trabalhadores somos muitos pressionados, inclusive com demissão, para não participar do sindicato. A empresa faz várias apresentações, em power point, para mostrar por que não devemos nos sindicalizar. E os que não respeitam isso podem ser demitidos. Eu mesmo temo que ao voltar aos EUA possa ser mandado embora", diz Morris Mock, operário da fábrica de Canton.

"Os direitos, dizem, não são respeitados e os trabalhadores executam tarefas precarizadas", diz Ricardo Patah, presidente da UGT.

João Cayres, secretário-geral e de relações internacionais da CNM-CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos), afirma que "não há paralelo entre a situação que ocorre nos EUA com outras fábricas da Nissan no mundo".

Segundo ele, os brasileiros vão dar apoio aos metalúrgicos dos EUA para tentar mudar essa realidade e ajudar na abertura de negociações com a empresa.

"O sindicato não entra na empresa e não é reconhecido. Muitos trabalhadores relatam que perderão o emprego se decidirem se filiar", diz Ginny Coughlin, coordenadora para o Brasil da UAW (United Auto Workers), sindicato de trabalhadores no setor automobilístico dos EUA.

A Nissan informa que "como uma empresa global, a companhia segue todas as leis trabalhistas dos países onde opera e respeita o direito de seus empregados em optar pela filiação ou não a um sindicato".

A montadora informa que foram feitas duas votações secretas nos EUA e os próprios funcionários escolheram não ser representados pelo UAW.


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