Folha de S. Paulo


Montadora americana usa impressora 3D para produzir carro elétrico

"Por favor, não toque", dizia o cartaz. Mas a tentação era grande demais.

Na recente Maker Faire -feira de tecnologia- realizada em Nova York, as pessoas não resistiam à vontade de acariciar o exterior canelado do carro. Os mais audaciosos socavam a superfície para ver como o material reagia.

Um menino pequeno e entusiasmado foi além e lambeu o para-choque dianteiro, para descobrir seu gosto.

A atração irresistível era um veículo impresso em 3D pela Local Motors.

Os espectadores se aglomeravam em torno do carro, inspecionando de perto sua estrutura, que combina chassis e carroceria numa peça e é feita do mesmo termoplástico usado nos blocos de Lego -a acrilonitrila butadieno estireno (ABS)-, reforçada com fibra de carbono.

The New York Times
Equipamento imprime um veículo Strati em feira dos EUA
Equipamento imprime um veículo Strati em feira dos EUA
Nathan Laliberte/The New York Times
O carro pronto; velocidade pode chegar a 80 km/h
O carro pronto; velocidade pode chegar a 80 km/h

A impressão 3D passou por uma ascensão meteórica nos três últimos anos, em razão do desenvolvimento de impressoras de baixo custo e de software fácil de usar.

Para as montadoras, inovações em larga escala na técnica aceleraram a produção de protótipos, alimentando o desenvolvimento de produtos e trazendo a promessa de queda no custo de produção.

A Local Motors, que já criou diversas formas inovadoras de veículo, construiu o modelo impresso em 3D em parceria com o Laboratório Nacional de Oak Ridge, a Associação de Tecnologia Industrial dos EUA e a Cincinnati Inc. O objetivo era reduzir o número de peças, segundo John Rogers Jr., presidente-executivo da empresa.

A Local Motors começou o projeto em abril, com um concurso de design. A companhia recebeu mais de 200 inscrições e escolheu o projeto do italiano Michele Anoè.

O carro foi chamado de Strati -o termo italiano para "camadas"-, em alusão ao processo de impressão 3D, baseado na sobreposição de camadas de ABS.

Depois de meses de preparação, o Strati ganhou vida neste mês na Mostra Internacional de Tecnologia Industrial de Chicago.

A impressão, feita no local por uma máquina do tamanho de um contêiner, levou 44 horas; uma equipe da Local Motors finalizou a montagem, lixando e retocando a carroceria para obter melhor acabamento e instalando os componentes mecânicos.

O processo completo demorou quatro dias.

O carro tem menos de 50 partes, incluindo um motor elétrico e uma transmissão doados pela Renault, acompanhados por faróis e lanternas, rodas e uma coluna de direção comprados de outros fabricantes.

Segundo Rogers, o preço do Strati ficará entre US$ 18 mil e US$ 30 mil. As versões iniciais servirão como veículos de baixa velocidade para pequenas tarefas, uma categoria conhecida como "veículos elétricos de bairro".

No total, a Local Motors informa ter investido menos de US$ 1 milhão no Strati.

O objetivo agora é desenvolver um processo mais enxuto de produção.

SEGURANÇA

Mas os veículos produzidos por impressoras em 3D em larga escala enfrentam obstáculos difíceis.

Em um breve passeio em baixa velocidade pelas ruas pavimentadas de um parque, o Strati enfrentava as irregularidades da superfície surpreendentemente bem e emitia um zumbido discreto.

Mas o termoplástico usado em sua fabricação não é mais forte que um metal análogo.

"A segurança é a maior questão", diz Rogers.

"Nossa intenção é tornar esse veículo mais seguro que modelos comparáveis. Queremos obter resultados de testes físicos de colisão que se provem tão seguros quanto ou mais seguros que os de veículos atuais."

O Strati pode atingir velocidades de quase 80 km/h e cada carga de bateria lhe oferece autonomia de cem quilômetros, segundo Rogers, que espera começar a atender encomendas de veículos produzidos com impressoras 3D dentro de 12 a 18 meses.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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