Folha de S. Paulo


Pesquisa eleitoral e cenário externo levam Bolsa a cair 2,5%; dólar sobe

A Bolsa brasileira fechou em baixa nesta segunda-feira (20) após pesquisa eleitoral mostrar ligeira vantagem da candidata Dilma Rousseff (PT) sobre o tucano Aécio Neves (PSDB). O cenário ruim no exterior também contribuiu para a queda do mercado acionário local.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, caiu 2,55%, a 54.302 pontos. Das 70 ações negociadas, 60 caíram, nove subiram e uma se manteve inalterada no pregão. O volume financeiro foi de R$ 10,76 bilhões.

O dia foi marcado pela agenda esvaziada, sem a divulgação de grandes indicadores econômicos. O principal fator de influência sobre a Bolsa foi a pesquisa eleitoral CNT/MDA, que mostrou empate técnico da candidata petista em relação ao tucano. Na intenção de voto estimulada (quando os entrevistados são apresentados aos nomes dos candidatos), Dilma tem 45,5% contra 44,5% de Aécio. Brancos e nulos são 5,7% e não sabem ou não responderam são 4,3%.

Considerando apenas os votos válidos -ou seja, excluindo os nulos, brancos e indecisos-, a petista teve 50,5% da intenção de votos contra 49,5% do tucano.

"O mercado está pautado pela indefinição. Sem a perspectiva de um vencedor claro, o investidor fica receoso em assumir uma posição na Bolsa, o que leva a uma aversão ao risco maior, como a que estamos vendo", afirma Sandra Peres, analista-chefe da Coinvalores.

É a mesma percepção de Ignacio Rey, economista da Guide Investimentos. "A semana começou com a expectativa em torno das pesquisas que vêm pela frente. A CNT/MDA trouxe um empate técnico, mas mostrou Dilma à frente do Aécio e a rejeição do Aécio maior que a da Dilma", avalia.

O dia foi também de vencimento de opções sobre ações, que movimentou R$ 3,62 bilhões. Desse total, R$ 1,28 bilhão foram de opções de compra e R$ 3,34 bilhões, em opções de venda.

Nesta noite o mercado ficará atento à divulgação da pesquisa Datafolha de intenção de votos para o segundo turno eleitoral. Nesta terça-feira (21), o foco estará nos dados do PIB (Produto Interno Bruto) da China, que serão divulgados nesta noite.

AÇÕES

Os papéis da PDG lideraram as baixas no Ibovespa, após caírem 7,20%, a R$ 1,16. Em seguida vieram as ações da Oi, com desvalorização de 6,40%, a R$ 1,17.

As ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, caíram 6,13%, a R$ 17,92, e os papéis ordinários da petrolífera, com direito a voto, encerraram o dia em baixa de 5,83%, a R$ 17,12.

Ainda no chamado "kit eleições", os papéis do Banco do Brasil recuaram 5,78%, a R$ 30,14. As ações preferenciais da Eletrobras tiveram redução de 2,40%, a R$ 10,15, enquanto os papéis ordinários da empresa registraram queda de 3,15%, a R$ 6,77.

No setor financeiro, as ações do Itaú Unibanco tiveram desvalorização de 2,89%, a R$ 35,64. Os papéis do Bradesco encerraram o pregão com queda de 2,37%, a R$ 36,71.

No sentido contrário, as ações da Braskem lideraram as altas no Ibovespa, com avanço de 2,15%. Os papéis da Gafisa subiram 1,71% e os da Fibria, 1,50%.

EXTERIOR

O dia foi marcado por cenário misto no exterior, motivado pelas incertezas econômicas. "Há preocupações com o crescimento da China e do Japão, além de rumores sobre a possibilidade de adiamento da normalização da política monetária de vários países, como EUA e Europa, pela desaceleração do crescimento do mundo", afirma Ignacio Rey, da Guide Investimentos.

Na Ásia, as ações japonesas subiram, depois que dados e resultados corporativos sólidos nos Estados Unidos acalmaram os mercados financeiros globais preocupados com a saúde da economia mundial.

O índice MSCI, que reúne ações da região Ásia-Pacífico com exceção do Japão, avançou 1,16%, enquanto o índice japonês Nikkei saltou 3,98%, maior ganho diário desde junho do ano passado e recuperando parte dos 5% que perdeu na semana anterior.

Na Europa, as Bolsas fecharam em queda, reduzindo os ganhos da sessão anterior, com o alerta sobre o lucro da SAP golpeando papéis do setor tecnológico.

Em Londres, o índice FTSE-100 caiu 0,68%, a 6.267 pontos. Em Paris, o CAC-40 teve baixa de 1,04%, a 3.991 pontos, e em Frankfurt o índice DAX fechou com desvalorização de 1,50%, a 8.717 pontos.

Em Milão, o FTSE MIB encerrou o dia com queda de 0,86%, a 18.540 pontos. O Ibex-35, de Madri, caiu 0,42%, a 9.915 pontos. E a Bolsa portuguesa fechou com queda de 0,17%, a 5.037 pontos.

"Com a falta de sinalização por parte do presidente do BCE (Banco Central Europeu) ou de Angela Merkel, o mercado amarga a triste realidade de ter que conviver com uma economia em desaceleração", afirma Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora.

Nos Estados Unidos, as Bolsas subiram. O Dow Jones, principal índice do mercado acionário americano, teve alta de 0,12%, a 16.399 pontos. O S&P 500 subiu 0,91%, a 1.903 pontos, e o índice da Bolsa de tecnologia Nasdaq teve alta de 1,35%, a 4.316 pontos, de acordo com dados preliminares.

CÂMBIO

No mercado cambial, o dólar subiu em relação ao real. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve alta de 0,68%, a R$ 2,460. O dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,35%, a R$ 2,464.

"O mundo como um todo anda complicado e com uma maior aversão a países emergentes, principalmente por causa dos EUA, pelas incertezas em relação ao que vai acontecer a partir de 2015. Mas, aqui, o fator principal para a volatilidade são as eleições", afirma Tarcisio Joaquim, diretor de câmbio do Banco Paulista.

"O dólar ganhou força por uma perspectiva ainda acirrada com relação às eleições, e é relevante o fato de o real ter apresentado um movimento contrário em relação a moedas de emergentes", afirma Ignacio Rey, da Guide Investimentos.

O real só não se desvalorizou mais que o rublo, da Rússia, país que teve a nota de crédito rebaixada pela agência de classificação de risco Moody's na sexta-feira. A perspectiva do rating é negativa.

Nesta manhã, o Banco Central deu continuidade às intervenções diárias no mercado de câmbio, oferecendo 4.000 contratos de swap (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro) com vencimentos em 1º de junho e 1º de setembro de 2015. Foram vendidos 2.700 contratos para 1º de junho e 1.300 para 1º de setembro de 2015, com volume correspondente a US$ 197,5 milhões.

O BC também fez nesta sessão mais um leilão de rolagem dos contratos de swap que vencem em 3 de novembro, que equivalem a US$ 8,84 bilhões, com oferta de até 8.000 contratos. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 62% do lote total.

Com Reuters


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