Folha de S. Paulo


Sem fábrica própria, cervejeiros viram 'produtores ciganos'

Formado em engenharia, André Cancegliero, 36, trabalhou em bancos por dez anos antes de decidir que queria se tornar um microcervejeiro. Mas tinha um problema: construir uma fábrica como desejava e começar a produzir custaria R$ 11 milhões.

A solução foi se tornar um "cervejeiro cigano", ou seja, produzir com a estrutura de outra cervejaria.

Ele lançou sua marca, a Urbana, em agosto de 2013 alugando espaço na cervejaria Blondine, em Itupeva (SP).

O convite veio do dono da indústria, Aloísio Xerfan. Cancegliero gastou menos de 5% do que desembolsaria se tivesse uma fábrica própria, sem os riscos de construir e manter uma grande estrutura -e sem a pressão de crescer rapidamente para usar toda a capacidade.

O investimento inicial foi de R$ 600 mil para produzir 6.000 litros. Com crescimento médio de 20% ao mês, a Urbana produz hoje até 20 mil litros mensais, com faturamento médio de R$ 200 mil por mês.

David Michelsohn, 37, é outro dos cervejeiros ciganos que produzem dessa forma.

"Já estou há um ano no mercado e não vendo 10 mil litros por mês. Uma fábrica é para quem tem patrimônio suficiente para um ou dois anos de vendas ruins."

Ele produz em três cervejarias, mas já passou por seis fábricas diferentes.

Hoje, a fábrica da Blondine produz 120 mil litros por mês. De acordo com Xerfan, cerca de 36 mil litros são de três cervejarias parceiras.

A fábrica divide custos de manutenção e diminui sua capacidade ociosa, mas Xerfan diz não querer novos cervejeiros agora, para ter mais espaço para experimentação.

SEM AMARRAS
Luciano Martins Silva, 25, é sócio da distribuidora Cervejaria Sazonal com dois amigos. Cada um comanda uma marca própria dentro da empresa, que desenvolve receitas individuais.

Cada lote é produzido com base num contrato pontual com uma cervejaria. Desde junho deste ano, foram quatro lançamentos de 3.000 litros cada um: três em uma fábrica de Ribeirão Preto (SP) e um na cervejaria Tupiniquim, de Porto Alegre (RS).

"Não temos contrato fechado porque não é interessante pela variedade que produzimos", diz. A distribuidora tem lançado um lote a cada dois meses, com meta de crescer para dois por mês.

Fernando Jaeger, 37, é sócio da Tupiniquim. Ele diz que 5.000 litros da capacidade de 30 mil litros são de parceiros pontuais, entre eles duas marcas estrangeiras.

Para o empresário, fazer esse tipo de parceria é importante para atender a novos segmentos. "Com os parceiros, a gente agrega cervejas de tipos diferentes ao portfólio da empresa e tem mais para oferecer quando entramos em um mercado", afirma.


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