Folha de S. Paulo


Veículos vão mal e limitam expansão do comércio

Se o comércio como um todo teve um desempenho favorável agosto, o mesmo não se pode dizer do setor de veículos, um dos ramos mais importantes da atividade e de maior peso no PIB comercial.

Apesar de ainda mantidos alguns estímulos ao consumo de automóveis, as vendas de veículos e motos, partes e peças, mostraram uma perda de 2,5% de julho para agosto. O resultado destoa do varejo, cujas vendas voltaram a crescer após dois meses.

Em 12 meses, a queda do setor é de 5,5%. De janeiro a agosto, soma uma retração ainda mais intensa: 9,8%. Os dados são do IBGE.

Outros dados mais recentes apontam que o comércio de veículos também não deve deslanchar. Um deles é o índice de Intenção de Consumo das Famílias, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), que apresentou em outubro queda de 0,4% (121,5 pontos) na comparação com setembro.

Frente a outubro de 2013, a disposição das famílias de irem às compras caiu 3,8%, divulgou a entidade nesta quarta-feira (15).

Juan Barbosa - 22.jun.2012/Folhapress
Indústria de veículos pesados em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha; vendas do setor caiu em agosto
Indústria de veículos pesados em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha; vendas do setor caíram em agosto

Como os veículos não são bens de primeira necessidade e têm um valor maior, seu consumo sempre tende a ser postergado em tempos de desaceleração do mercado de trabalho, de maior incerteza e de endividamento elevado.

Para a CNC, a piora da confiança de consumidores está ligada também ao repique dos preços dos alimentos, que vinham em queda.

Esse cenário de menor otimismo tende a manter o consumo de automóveis desaquecido nesses meses finais de 2014, o que terá reflexo na produção do setor –um dos mais importantes da indústria, pois carrega consigo uma extensa cadeira de fornecedores.

Em setembro, porém, os emplacamentos de veículos mostraram uma melhora e subiram 8,08% na comparação com o mês anterior, segundo a Fenabrave (federação das distribuidoras de veículos). Na comparação com setembro de 2013, contudo, houve retração 2,92%. No acumulado do ano, a tendência é a mesma: o indicador que sinaliza as vendas do setor mostra uma perda de 7,99%.

ATACADO E VAREJO

Os ramos de veículos e material de construção vendem seus produtos também por atacado. Por este motivo, não integram o índice do comércio varejista.

O IBGE calcula o indicador do varejo ampliado, que incluiu também esses dois segmentos. Nesse caso, as vendas do comércio mais amplo apontaram queda de 0,4% de julho para agosto diante da queda de veículos –o chamado varejo restrito apontou alta de 1,1%.

Já em 12 meses, a taxa se manteve positiva no comércio ampliado (0,6% até agosto), embora abaixo do varejo "puro" –alta de 3,6%.

Para o IBGE, alguns ramos do varejo, como equipamentos e material para escritório, informática e comunicação, tecidos, vestuário e calçados e papelaria foram beneficiados por promoções e o retorno às aulas em agosto.

O Bradesco pondera, em relatório, que "o resultado [positivo] de agosto não devolveu a queda observada nos dois meses anteriores".

"Dessa forma, mantemos nossa expectativa de moderação do consumo das famílias ao longo de 2014", diz o banco.

Tal moderação terá impacto no PIB do terceiro trimestre, que deve vir, porém, melhor do que os dois trimestres anterior. O Bradesco prevê uma alta de 0,5% de julho a setembro.

No segundo trimestre, a economia recuou 0,6% e entrou em recessão técnica.

Para o PIB de 2013, a maior parte de bancos e consultorias espera uma taxa próxima de zero, com avanço perto de 0,3%.

Especificamente para o comércio, a CNC prevê um crescimento de 3,5% neste ano.


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