Folha de S. Paulo


Brasileiro vê no imigrante chance de preencher vagas preteridas

Os empregadores brasileiros enxergam nos africanos e nos haitianos, que têm maior presença na nova onda de imigração, trabalhadores capazes de ocupar funções para as quais não encontram mão de obra local ou nas quais não conseguem retê-la.

Com o crescimento do mercado de trabalho no país e a maior oferta de vagas na última década, empresários reclamam que é difícil manter funcionários por mais tempo, e a dificuldade aumenta em vagas de baixa remuneração.

A reportagem acompanhou a palestra que é dada na Missão Paz de São Paulo, instituição que apoia os imigrantes, para pessoas interessadas em contratar. O intuito da conversa é esclarecer dúvidas e discutir a situação dos estrangeiros, a fim de evitar casos de exploração.

Nas duas horas em que estiveram lá, os empresários comentaram as dificuldades que dizem encontrar com a mão de obra brasileira.

Em uma das reuniões, que ocorreu em setembro, a dona de um serviço de bufê em Santo André, Gil Gondim, disse que procurava dois funcionários: uma ajudante de cozinha e um ajudante geral.

Chegou à missão ao ler reportagens descrevendo haitianos como bons trabalhadores. "Tive muito problema com brasileiros. A oferta de vagas é grande, e não há comprometimento. Já o imigrante tem cultura de trabalho."

ECONOMIAS

O processo é semelhante ao que ocorreu em economias mais desenvolvidas, onde estrangeiros ainda ocupam vagas preteridas no mercado (o exemplo mais conhecido é o dos mexicanos nos EUA).

João Marques, sócio-fundador da consultoria de imigração corporativa Emdoc, reconhece esse movimento, mas faz ressalvas quanto a sua abrangência e duração.

Ao lado da entidade de defesa dos direitos humanos Cáritas, a Emdoc ajuda na contratação de refugiados.

Marques diz que a maioria dos imigrantes tem pouca qualificação, mas está sendo bem absorvida pelo mercado.

No entanto, afirma, se a oferta de vagas não crescer no mesmo ritmo da chegada de estrangeiros, essa mão de obra poderá perder espaço.

Em agosto, o país criou 101,4 mil vagas com carteira assinada. O resultado foi o menor para o mês desde 2012.

"Não sei até que ponto haverá esse espaço [para o imigrante pouco qualificado]. Os países fecham os olhos quando esses trabalhadores não convêm. Fecha-se a porteira para os pouco qualificados porque isso a gente já tem no Brasil."

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