Folha de S. Paulo


Brasil não chega à metade do avanço mundial, diz FMI

O Brasil caminha para seu pior desempenho no avanço médio do PIB em um mandato presidencial desde 1995, caso se concretize a previsão do Fundo Monetário Internacional para o país neste ano, com crescimento da economia inferior à metade da média global no período.

O quadro contrasta com o discurso do governo da presidente Dilma Rousseff, que, nos últimos meses, vem relacionando a performance fraca da economia brasileira com a crise internacional.

Mas, enquanto a economia do mundo cresceu em média 3,5% nos últimos quatro anos (contando a projeção de 2014) e a dos países emergentes, 5,1%, o PIB brasileiro no período 2011-14 ficou em 1,6%.

Os números estão no novo Panorama Econômico Mundial, divulgado nesta terça (7). No relatório, o FMI prevê que a economia global crescerá 3,3% neste ano, e a brasileira, 0,3% -o sexto corte seguido feito na projeção.

Editoria de Arte/Folhapress

O cenário ainda é mais otimista que o 0,24% citado no último relatório Focus do Banco Central, que compila semanalmente projeções de instituições financeiras locais.

Nos últimos 20 anos, só no quadriênio 2007-2010, no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, a média brasileira superou a mundial (4,6% a 3,5%). O país também tem ficado aquém do avanço médio dos emergentes, tendência acentuada em 2011.

Salvo uma guinada inesperada neste último trimestre, esta será a primeira vez desde a criação do real (1994) que a média quadrienal do país não chega nem à metade da global. Também pela primeira vez o avanço brasileiro será de menos que um terço do crescimento dos emergentes.

Nos últimos relatórios, economistas do Fundo culpam sobretudo a "baixa confiança empresarial e do consumidor" pelo desempenho, além do "aperto nas condições financeiras" -os juros altos.

Outros obstáculos que o FMI volta a citar e que são alvo de recomendações de reforma são baixa competitividade, gargalos na educação e no treinamento de mão de obra, falhas na infraestrutura (principalmente em estradas e portos) e baixo índice de investimento e poupança.

No novo relatório, o Fundo cortou um ponto percentual da projeção de crescimento (era 1,3% em julho), a maior redução entre 14 grandes economias avaliadas.

Só dois desses países devem ter performance pior: a Itália (retração de 0,2%) e a Rússia (avanço de 0,2%).

Para 2015, a expectativa é que o Brasil cresça 1,4%.

CASO A CASO

No relatório, o FMI diz que a recuperação econômica global é irregular, assumindo ritmo específico para cada país, sem tendências regionais e com vizinhos exibindo performances distintas.

O texto indica que é prioridade para países como Brasil e Turquia "aumentar a poupança doméstica" em momento de "menor apoio do ambiente externo".

Para os economistas do Fundo, a vulnerabilidade brasileira cresce com a normalização da política monetária dos EUA, após anos de injeções mensais bilionárias do BC americano no mercado. Parte desses dólares, que ia para mercados emergentes atrás de maior retorno, deve voltar agora para os EUA.

Na América do Sul, Argentina e Venezuela serão os únicos com performance inferior à do Brasil no ano, recuando 1,7% e 3%, respectivamente.


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