Folha de S. Paulo


Dólar vai a R$ 2,48 e Bolsa cai pelo terceiro dia com eleições e exterior

O dólar encerrou o dia no patamar de R$ 2,48 e a Bolsa fechou em baixa pelo terceiro pregão seguido devido a fatores internos e externos que causaram preocupação aos investidores ao longo desta quarta-feira (1º).

No mercado cambial, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou com alta de 1,37%, a R$ 2,487. O dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 1,46%, também a R$ 2,485. Ambos estão no maior patamar desde 8 de dezembro de 2008.

No cenário doméstico, dados econômicos ruins têm contribuído para a saída de recursos do país, afirma Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio.

"Nós temos cada vez mais os fundamentos econômicos deteriorados. Ontem nós tivemos a divulgação da política fiscal, resultado pífio e que deixa em perspectiva uma redução de nota de crédito, embora as agências de rating estejam sendo bastante cuidadosas, por causa do período eleitoral. Mas essa bondade vai acabar logo", afirma.

Nesta quarta-feira, a agência de classificação de risco S&P (Standard & Poor's) afirmou que o próximo governo precisará implementar mudanças fiscais para evitar uma piora na avaliação brasileira em 2015.

Em março, a agência reduziu a nota de avaliação do Brasil de "BBB" para "BBB-". Apesar da queda, a nota do país continua no chamado grau do investimento, ou seja, de mercado considerado seguro para se investir.

Há também um componente eleitoral que agiliza esse processo de subida do dólar, avalia Nehme. "O dólar caminharia naturalmente para uma alta, mas o movimento especulativo no dólar agiliza esse aumento da moeda", diz.

As perspectivas são de novos aumentos da moeda americana, afirma o diretor da NGO. "Nós devemos ter uma saída de recursos, seja especulativos que entraram no começo do ano ou de investimento. Qualquer mudança que o Fed (banco central americano) fizer em relação a sua política monetária vai tirar recursos daqui. Temos números ruins que inibem a entrada de novos recursos", afirma.

Para Nehme, o dólar deverá ficar em um novo patamar, na faixa de R$ 2,55 a R$ 2,60.

O BC vendeu nesta sessão a oferta total de até 8.000 contratos de swap para rolagem dos contratos de novembro. Com isso, rolou cerca de 4,5% do lote total, equivalente a US$ 8,84 bilhões.

Pela manhã, o BC também deu continuidade às intervenções diárias no mercado de câmbio, vendendo a oferta total de até 4.000 contratos de swap (equivalentes à venda futura de dólar), com volume correspondente a US$ 197 milhões. Foram vendidos 500 contratos para 1º de junho e 3.500 para 1º de setembro de 2015.

BOLSA

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou com baixa de 2,32%, aos 52.858 pontos, menor pontuação desde 5 de junho deste ano. Na semana, a Bolsa acumula queda de 7,6%.

Para Bruno Piagentini, analista da Coinvalores, a disputa eleitoral foi o principal motivo para a queda da Bolsa nesta quarta-feira, um dia após a divulgação de pesquisas confirmando o fortalecimento da candidata Dilma Rousseff (PT) na corrida ao Planalto.

"Vimos nas últimas pesquisas que vantagem [de Dilma] se manteve, e isso causa uma aversão principalmente por parte dos investidores estrangeiros que não gostam desse perfil mais interventor do governo", afirma.

Na terça-feira foi divulgada a pesquisa Datafolha que mostra acirramento entre Aécio e Marina pelo segundo lugar.

Na sondagem, a presidente Dilma Rousseff (PT) lidera isolada com 40%, enquanto a pessebista tem 25% e o tucano, 20%.

A pesquisa Ibope traz cenário parecido. Na sondagem, Dilma aparece com 39% das intenções de voto, seguida por Marina, com 25%, e Aécio, com 19%.

Dos 69 papéis do Ibovespa, 57 caíram e 12 subiram. As ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, encerraram o dia com queda de 5,53%, a R$ 17,09. Os papéis ordinários da empresa, com direito a voto, caíram 4,93%, a R$ 16,40.

Após perderem 15,2% em dois dias, as ações do Banco do Brasil esboçaram uma recuperação nesta quarta-feira e subiram 1,58%, a R$ 25,70.

Os papéis preferenciais da Eletrobras encerraram o dia em baixa de 3,07%, a R$ 9,79, e os ordinários caíram 3,96%, a R$ 6,30.

Esses papéis são os mais sensíveis à atual disputa eleitoral. Isso porque parte dos investidores acredita que uma vitória da oposição significaria uma diminuição na intervenção do governo na empresa. Logo, quando Dilma sobe nas pesquisas, os papeis da companhia se desvalorizam.

EXTERIOR

No cenário internacional uma série de questões causa preocupações aos investidores, afirma Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da TOV Corretora. "Parte importante do movimento de hoje está relacionada à queda global dos mercados internacionais. As Bolsas americanas e europeias fecharam em baixa hoje, em um mau humor internacional generalizado", afirma.

Dados da Alemanha mostraram que a atividade industrial encolheu pela primeira vez em 15 meses em setembro. O crescimento do setor industrial da zona do euro desacelerou mais com a queda nas novas encomendas pela primeira vez em um ano.

Nos EUA, o crescimento do setor industrial desacelerou mais que o esperado em setembro, mesmo com aceleração do aumento das vagas no setor privado, sinais de uma expansão irregular na economia norte-americana.

Além disso, gastos com construção no país caíram inesperadamente em agosto, impactados por gastos privados mais fracos fora do setor de moradias e um recuo nos investimentos públicos.

Também nos EUA o primeiro caso confirmado de ebola causou preocupações que se refletiram principalmente nas ações de companhias aéreas. No Brasil, os papéis da Gol foram afetados pelo problema, afirma Bruno Piagentini, analista da Coinvalores. As ações da companhia encerraram o dia com queda de 5,13%, a R$ 11,10.


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