Folha de S. Paulo


eBay anuncia que vai se separar do PayPal em 2015

O eBay anunciou na terça-feira (30) que promoveria a cisão de sua divisão de pagamentos PayPal, criando uma companhia de capital aberto separada e adotando o modelo que Carl Icahn, magnata dos fundos de hedge e investidor ativista, começou a exigir nove meses atrás.

A decisão dividirá o eBay quase ao meio, separando-o da empresa de processamento de pagamentos adquirida por ele quase 12 anos atrás e desenvolvida até se tornar um gigante que responde por quase metade da receita do grupo.

A cisão deve ser concluída no segundo semestre de 2015. John Donahoe, atual presidente-executivo do eBay, renunciará ao posto quando a separação estiver concluída.

Cisões empresariais se tornaram moda nos últimos anos, quando empresas começaram a tentar simplificar seus negócios a fim de satisfazer acionistas que desejam operações de foco mais estreito. Acionistas ativistas, que adquirem posições em companhias e exigem mudanças que trarão elevação aos preços das ações, costumam fazer esse tipo de exigência frequentemente.

BATALHA

O PayPal foi foco de uma prolongada batalha entre o eBay e Icahn, que queria uma cisão da unidade como forma de gerar valor para os acionistas. O bilionário dos fundos de hedge alegava que uma operação como essa destacaria ainda mais os pontos fortes do PayPal e permitiria que sua equipe de gestão e a do eBay se concentrassem cada qual nos negócios centrais de suas companhias.

Criar um conselho separado para o PayPal ajudaria a remover o que, na interpretação de Icahn, eram conflitos de interesse entre a subsidiária e a controladora do serviço de processamento de pagamentos.

Donahoe resistiu firmemente a essas demandas, argumentando que sua companhia colhia benefícios do controle exercido sobre um dos maiores serviços de processamento de pagamentos, e vice-versa.

"Nós e nosso conselho acreditamos que a melhor maneira de criar valor em longo prazo para os acionistas é manter o eBay e o PayPal unidos, a fim de aproveitar as oportunidades", ele declarou em conversa telefônica com analistas, em janeiro, depois de revelar as intenções de Icahn.

"E a distração e perda de sinergia causada pela separação aconteceriam exatamente na hora errada. Estamos vivendo uma janela de oportunidade para o comércio eletrônico".

ESTRATÉGIA

Icahn terminou por moderar suas exigências quanto a um PayPal independente, e pediu que apenas 20% das ações do serviço de pagamentos online fossem colocadas no mercado.

Depois de chegar a acordo na disputa com Icahn em abril, dando a ele quase nada além do direito de indicar um integrante para o conselho, sujeito a aprovação do PayPal, a companhia ofereceu poucas indicações de que uma separação estivesse por acontecer.

Mas Icahn terminou conseguindo o que desejava, em longo prazo. Em entrevista, Donahoe admitiu que o eBay estava seguindo a estratégia que Icahn havia recomendado e que a empresa inicialmente rejeitou vigorosamente.

"Chegamos ao lugar que Carl queria desde o começo", ele afirmou.

Mas acrescentou que a empresa havia chegado a essa conclusão por meio de "um processo deliberado", e não em reação a pressões externas.

Ainda assim, Donahoe admitiu que "o ritmo de mudança se acelerou nos últimos seis meses", no setor de pagamentos, citando o surgimento do Apple Pay e a oferta pública inicial do Alibaba –ele alegou mais adiante que a companhia havia antevisto esses desdobramentos e disse que "não acredito que tenhamos agido tarde".

LÍDER

Donahoe acrescentou que a cisão do PayPal tinha outro benefício importante: atrair um novo líder: "Como conseguir o melhor presidente-executivo, para o futuro?", ele disse.

A resposta parece ser Daniel Schulman, importante executivo da American Express que o eBay anunciou na terça-feira se tornaria presidente do PayPal. Quando o PayPal iniciar sua nova vida como companhia de capital aberto, Schulman, que comandava a estratégia de serviços de pagamento móveis e online da American Express, se tornará seu presidente-executivo.

Os negócios de comércio do eBay continuarão a ser comandados por Devin Wenig, que se tornará presidente-executivo da companhia depois da cisão.

O negócio que ele assumirá se tornou importante no processamento de pagamentos desde que foi criado, no final dos anos 90. O eBay adquiriu o PayPal em 2002, depois que o serviço havia se convertido, na prática, em método preferencial de pagamento para os leilões de seus mercados.

Desde então, a subsidiária se tornou uma das partes de mais rápido crescimento no eBay, respondendo por 41% da receita líquida total da empresa no ano passado. Nos últimos 12 meses, o PayPal processou pagamentos no volume de US$ 203 bilhões, e conta no momento com 153 milhões de contas digitais ativas.

DIVISÃO

Diversos analistas se alinharam ao eBay em sua resposta inicial, argumentando que comércio eletrônico e pagamentos digitais faziam sentido dentro da mesma empresa.

"Todo mundo em nosso setor sabe que a aquisição do PayPal pelo eBay em 2002 foi considerado como uma vitória categórica e um exemplo clássico de sinergia bem executada", escreveu Sucharita Mulpuru, analista da Forrester Research, em seu blog, em março.

Mas outros afirmam que a conexão estreita com o eBay poderia atrasar a vida do serviço de pagamentos. Companhias de comércio eletrônico como a Amazon.com e o Alibaba provavelmente evitarão autorizar o uso do serviço enquanto ele estiver vinculado a um grande concorrente, argumentou Seth Shafer, analista da SNL Financial, no mês passado.

E o PayPal se tornou mais independente de sua controladora, com o tempo. Menos de um terço do volume em dólares dos pagamentos processados no ano passado veio do eBay, e a subsidiária ingressou em novos mercados.

Um ponto de especial interesse foi sua aquisição da startup Braintree, que opera pagamentos móveis para serviços quentes de comércio eletrônico como o app Uber, de serviços de carros, e o Airbnb, para aluguel de quartos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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