Folha de S. Paulo


Apesar de medidas do Banco Central, concessão de crédito recua em agosto

Apesar das medidas de estímulo ao crédito anunciadas pelo Banco Central, as concessões de crédito no Brasil recuaram em agosto.

O fluxo de crédito livre no Brasil recuou 2,2%, informou o BC nesta sexta-feira (26).

Crédito livre é o concedido sem que haja uma finalidade específica. Para pessoas físicas, essa queda foi de 3,7%, e para pessoas jurídicas, de 0,4%.

Considerando as concessões totais, incluindo as feitas também com recursos direcionados (como para compra de imóvel e crédito agropecuário), a queda foi de 0,5%, sobre a retração de 3,9% no mês anterior.

Ao mesmo tempo, a inadimplência continuou estável, enquanto a taxa de juros interrompeu a sequência de alta.

O estoque total de crédito cresceu 1%, totalizando R$ 2,864 trilhões.

Para Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, as medidas do governo de estímulo ao crédito, uma das frentes do governo para tentar aquecer a economia por meio da demanda, devem levar seis meses para terem efeito total.

Uma das principais medidas visa estimular o crédito para compra de veículos, setor cujas vendas estão fracas neste ano.

Em agosto, o BC definiu que o banco que elevar em 20% a média diária dessas operações de financiamento até dezembro poderá descontar os empréstimos do compulsório. Quem não cumprir a meta, não poderá fazer a dedução.

Nos últimos 12 meses, porém, o saldo de crédito para veículos acumula queda de 2,8%. O setor de veículos preocupa o Palácio do Planalto porque está em processo de demissões e pode prejudicar a campanha de reeleição da presidente.

Além de veículos, o saldo do cheque especial também teve queda, de 4,2% em agosto em relação a julho. A concessão de crédito consignado para pessoas físicas caiu 11,3% em agosto ante julho.

O BC também reduziu a exigência mínima de capital para risco de crédito.

Apesar da queda nas concessões, em volume de dinheiro, o crédito cresceu. Os empréstimos para famílias com recursos controlados tiveram alta de 2,1%, para R$ 1,34 trilhão, puxado pela alta nos financiamentos habitacional e rural.

O com recursos livres chegou a R$ 1,52 trilhão. A recuperação em agosto está em parte associada a questões sazonais, pois julho foi um mês fraco, afirmou Maciel.

Ele destacou que esse crescimento está acontecendo em ambiente de inadimplência relativamente baixa e estável.

PERSPECTIVAS

A autoridade monetária manteve a previsão de alta de 12% nos empréstimos no país.

Essa era a expectativa da entidade antes do anúncio do pacote de estímulo ao crédito, que liberou parte dos depósitos compulsórios dos bancos para que eles emprestem mais.

"Essas medida ajuda a não revisar para baixo [a estimativa de crédito]", disse o chefe do Departamento Econômico do BC.

Segundo ele, liberação do compulsório e a redução do requerimento mínimo de capital para risco de crédito já estavam dentro do cenário de evolução do crédito.

Mas o Banco Central revisou para baixo expansão do crédito livre, de 7% para 6%. Já para o crédito direcionado, o BC manteve projeção de aumento de 19%. Também foi mantida projeção para aumento do crédito oferecido por bancos públicos - 17%.

Para os bancos privados nacionais, é esperado crescimento de 7%, a projeção anterior era de 6%. A previsão para os estrangeiros caiu de 9% para 6%.

JUROS

Os juros interromperam a sequência de alta. A taxa do crédito livre para a pessoa física caiu pela primeira vez em 2014, para 43,1% ao ano. O recuo, porém, é praticamente nulo: apenas 0,1 ponto percentual.

Essas taxas vinham subindo há sete meses consecutivos.

Os juros do crédito a pessoas físicas com recursos direcionados também caíram 0,1 ponto percentual, situando-se em 8,1% ao ano.

Para Maciel, do BC, a taxa está oscilando no mesmo patamar desde a interrupção do ciclo de alta da Selic, no fim de maio.

O spread bancário –diferença entre a taxa de juros que os bancos pagam pelos recursos no mercado e a taxa de juros que cobram de seus clientes nos empréstimos– nas operações com recursos livres também apresentou queda, de 0,2 p.p., ficando em 21,2%.

INADIMPLÊNCIA

A inadimplência dos empréstimos com recursos livres manteve-se estável em agosto, em 5%. São considerados como inadimplentes os tomadores de empréstimo com atrasos superiores a 90 dias.

Para pessoas físicas, o nível de inadimplência manteve-se em 6,6%. Para pessoas jurídicas, cresceu levemente –de 3,5% em julho a 3,6% em agosto.

Para Maciel, há margem para reduzir a inadimplência, a níveis como o de março de 2011, quando 3,7% dos tomadores de empréstimo não pagaram seus débitos.


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