Folha de S. Paulo


Brasileiro apoia publicidade gay, mas nem tanto

Liberal na teoria; na prática nem tanto. Uma pesquisa da agência de publicidade J. Walter Thompson indica que os brasileiros são muito tolerantes quando perguntados se a publicidade deve retratar pessoas do mesmo sexo (80% concordam). Confrontados com anúncios, porém, 75% dizem não se incomodar, mas conhecer "um monte de gente que se incomoda".

"O estudo é muito revelador de um certo jeito de o brasileiro pensar", diz Fernand Alphen, vice-presidente de estratégia da Thompson. "Ele tem vergonha de assumir posições consideradas politicamente incorretas."

Em pesquisas, incluir afirmações do tipo "eu não me incomodo, mas conheço alguém que sim" é uma forma de detectar subterfúgios ou algum descompasso entre o que a pessoa diz e aquilo em que de fato acredita.

De um lado, 66% dizem achar positivo ver casais do mesmo sexo em anúncios. Mas quase metade (48%) afirma não entender a necessidade de as marcas mostrarem casais homossexuais.

Editoria de Arte/Folhapress

Alphen diz que a publicidade costuma ser acusada de careta e conservadora por não incluir LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) nos comerciais. "Fizemos a pesquisa para ver se o problema é a propaganda ou o público", diz ele, que admite ter ficado "desapontado" com os resultados. "O brasileiro não é simpático à ideia de ver gays na publicidade."

A Thompson ouviu 500 pessoas acima de 18 anos das classes A, B e C por meio de um questionário on-line.

Os resultados contrastam com o de uma pesquisa similar feita pela Thompson com americanos, que se revelaram mais francos e menos temerosos de dizer que não gostam.

Um anúncio de serviço de lista de casamento de uma varejista americana, em que aparecem dois homens de terno se casando, foi considerado controverso para 61% dos americanos ouvidos e por apenas 14% dos brasileiros.

Embora gays em comerciais sejam mais comum nos EUA, por aqui 60% dizem ver gays na publicidade com alguma frequência, ante 39% dos americanos.

Para Alphen, os resultados da pesquisa desaconselham o uso de casais gays na propaganda. "O risco para a imagem da marca é muito grande. Às vezes a empresa só quer dizer que isso é normal. Mas, quando ela tenta fazer esse movimento, isso vira assunto, desviando a atenção da marca."


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